quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ainda o Rio com meus alunos

Os trabalhos finais dos alunos espelharam o acerto da nossa viagem ao Rio. A cidade se mostrou, além de maravilhosa, boa para pensar. E eles pensaram muita coisa interessante a partir dela.
Assim, lembremos o último dia, quando, já meio esgotados, tivemos uma programacão que faz sentido para o aluno de arquitetura, mas talvez nenhum para os meros mortais.

Como eles pediram uma manhã livre, não sei bem o que a maioria fez. Eu fui pro Forte de Copacabana olhar o mar com um pequeno grupo e foi ótimo. De lá, almoçamos, por puro espírito bossanovista, no Veloso. Sim, pois nossa brincadeira era cantarolar Jobim e fingir que tínhamos ido parar numa novela do Manoel Carlos. Parece bobo e é; mas é assim que quase todo brasileiro conhece o Rio, pela janela da Globo.
Depois do almoço, pegamos a estrada, mas não sem antes parar naquilo que para mim foi o ponto alto da viagem. Um conjunto residencial. Para quem foi até Marselha para ver a Unité d'Habitation, como não visitar Pedregulho?
Pedregulho é o nome popular do conjunto habitacional Prefeito Mendes de Morais, projeto de 1947 do arquiteto Afonso Eduardo Reidy com apoio e muita participação de sua companheira Carmen Portinho, uma das primeiras engenheiras do Brasil. E uma feminista das boas. Querida leitora, você vota? Então vamos agradecer à Carmen!
Os arquitetos chamam de Pedregulho, por estar fincado uma pedra respeitável; mas a população do bairro de Benfica chama mesmo é de Minhocão, pela forma serpenteante do bloco principal.
Pedregulho é habitação de baixa renda, e o projeto é tão magnifico que dá vontade de chorar de lembrar. Como parece que nosso país está tomando jeito, está em fase de restauro, uma obra de 10 milhões concedidos pelo BNDS.
Os habitantes têm plena noção de morarem em algo muito especial, e isso é bom. Visitamos um apartamento, um duplex que se estivese em um bairro "nobre" (que termo horrendo) de São Paulo ou Rio, as pesoas se matariam para ali morar.
Por algum tempo, o conjunto compareceu no cinema brasileiro como residência de meliante. A cena da Fernanda Montenegro correndo pelos corredores curvos, sob a luz filtrada pelos cobogós é inesquecível. Mas o melhor mesmo é visitá-lo no filme de Ana Maria Magalhães sobre o arquiteto.
Quando novo, zero bala, foi fotografado por Marcel Gautherot. Em uma famosa visita ao Brasil, Max Bill deitou elogios ao conjunto. Quando os arquitetos modernos mais prestigiados se reuniram em Hoddeson para o CIAM de 1951, as melhores palavras foram para quem? Para Pedregulho. No mesmo ano, advinha quem levou o prêmio de arquitetura da Bienal de São Paulo? Pois é.
Vou voltar, sei que ainda vou voltar, com ou sem os alunos. Por nada nesse mundo vou perder a alegria de ver esse conjunto recuperado. De preferência com sua população ainda por ali, levando a vida cotidiana sem alarde e recebendo bem os que atravessam estradas para conhecer sua grande casa.
Abaixo, uma das fotos de Gautherot e outra da nossa viagem.





domingo, 18 de dezembro de 2011

Pra lá e pra cá

O que se faz num bate-pronto em Porto Alegre? No meu caso, nada, aproveitei pra dormir um pouco no hotel.
E no Rio? Ah, nesse dia eu fui profissional: o avião pousou às 8 e pouco e meu compromisso era às 13 hs. Me mandei pro finalzinho de Copacabana e fiquei tomando água de coco enquanto me maravilhava com a aula de body-boarding. Depois, entrei no forte e tomei um senhor café da manhã na Confeitaria Colombo. Só não me joguei no mar porque não tinha levado trajes adequados... e onde tomaria banho pra chegar apresentável no trabalho? Ainda estou matutando uma solução para tal dilema, afinal eu moro em Sampa, uma oportunidade de nadar no mar sempre deve ser considerada. Alugar os amigos... será?
Em poucos dias lá estava eu em Fortaleza, para um evento muito intenso, que não deixava tempo para nada e era muito bom. O que fazer? Num horário de almoço, fugi para o Dragão do mar. Uma pena, estava super vazio, acho que o quente lá e de noite. Vai ficar pra próxima. Mas pude observar que, programação à parte, a arquitetura é muito pós-moderna pro meu gosto. Parece que Aldo Rossi esteve por lá e tomou sol demais... opinião mais-do-que-pessoal, ok?
Em uma outra brechinha, tomei um taxi e corri para o CEART, lugar maravilhoso para comprar artesanato. Agora olho o chão da minha sala e penso no tapete que não comprei.... mas trouxe fronhas, cerâmica, presentinhos. Artesanato honesto, preços idem e as peças trazem, o que é justo, o nome do artesão que as concebeu e executou. Cultura popular não é anônima, geralmente é só de alguém que ainda não conhecemos!
E no último dia, quando o despertador tocou, eu quis amarelar. Mas lembrei que andei acordando muito cedo para ralar, de modo que fiz uma forcinha e às 7 horas estava na praia de Iracema. Eu e meia dúzia de gatos pingados. Deixei o cansaço de um ano intenso naquelas águas e trouxe a luz matinal praiana nas retinas.
Contas feitas, é óbvio que preciso passar uns dias na praia, sem fazer nada. Vamos ver se dá.




Enquanto isso, estou a um passo de embarcar na direção oposta, para os Andes. Quem sabe desço um pouco em coloco os pés no Pacífico?
Nas imagens, Porto Alegre vista do avião (snif), o mar batendo nas pedras do Forte de Coapcabana e o Dragão do Mar.





quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Terceiro dia no Rio com alunos

O terceiro dia precisava ser um dia útil, pois queríamos visitar um edifício público. Bom, se eles queriam eu não sei, mas foi o que coloquei no roteiro, com bons motivos. O antigo MESP, atual Palácio Capanema é o modernimso exposto de carteirinha. Ao chegar lá, decepção: o Ministério da Cultura tinha feito uma troca de feriados e o prédio estava fechado. Assim, pudemos ver a implantação, a relação com o entorno, os azuloejos de Portinari, vidros e brises, mas nada dos painéis internos, mobiliário, cobertura.
Como nada é tão perfeito assim, tudo estava fechado no centro do Rio, menos o Amarelinho, que tem boa comida, bons preços e atendimento de garçom velho carioca - es decir, o cara te ignora!
E nenhum lugar aberto para um bom café espresso.
Nada como o Largo no Machado, onde tem uma indefectível Casa do Pão de Queijo, e dali pro Parque Guinle.
O Parque Guinle é meu endereço sonho de consumo. Se algum dia eu tiver os meios, mudo pra lá na hora. Construído entre 1948 e 1954 é um pedaço de paraíso citadino ao lado da boa muvuca carioca.



Até Gilberto Freyre gostou. Em Novo Mundo nos Trópicos, rasgou elogios. Aquela arquitetura residencial, de varandão, do feliz casamento da tradição, do funcionalismo e do regionalismo: sim, era para ele o novo mundo ao sul do Equador.
Ali, sem nenhum alarde a classe média alta de Laranjeiras parece viver feliz, em um condomínio que não é fechado, com uma praça que o bairro pode usar - e usa!
Pra fechar o dia, Jardim Botânico, suas estufas, palmeiras e o portão da Antiga Academia Imperial de Belas-Artes.



Em nenhum momento se esquece que aquilo tudo tá ali porque um dia o Rio foi a capital do país.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Um albergue num feriadão

Como escrevei em post anterior, fui pro Rio e, em meio a diversas experiências antropológicas, fiquei num albergue.
Vamos combinar, albergue é coisa pra jovem. Ou pra quem é muito desencanado.
Já fiquei em todo tipo de hospedaria: hotéis bacanas, xexelentos, meia-boca, aqueles em Paris que vc jura nunca mais voltar, hostel simpático em Barcelona, B&B maravilhosos (escrevi sobre três neles nesse blog), apart-hotel, indefectíveis Ibis e até hotel boutique. Mas albergue foi a primeira vez.
Qual o problema?
Não é ficar com muita gente no quarto. No meu caso, fiquei com dez meninas e foi um bom aprendizado. Distante geograficamente das minhas sobrinhas, não sei bem o que passa pelo coração e pela mente de uma jovem de 20 anos. Isso eu adorei (não sei quanto a elas, ainda acho que foi um pouco invasivo).
Então vamos ao café da manhã. Nada justifica uma bebida que deve ser Ki-suco (se é que isso ainda existe). E nada justifica que a comida, que acaba em segundos, pois jovem come muito, rsrsrs, não seja reposta na hora. Ou seja, em um minuto havia fruta, no minuto seguinte acabava e depois nunca mais. Se indagados, os funcionários não davam a mínima...
E tem o banheiro. Aí, definitivamente não dá. É preciso que alguém limpe com mais frequência. Chegamos, no último dia, a "pular" o banho, tamanho desgosto coletivo que aquele banheiro nos causava. Andei na praia no Rio pra tomar banho em Campinas... isso é inédito na minha vida.
E mais não conto pois leitor nenhum merece.
Conclusão: é barato. Barato sem barata, o que também é importante. Eles dão lencóis e toalhas, tudo limpinho. E cadeados para os armários.
Mas... será tão barato assim, pelo que oferece?
Assim, entre o hotel bacana e caro e o albergue baratim, fico com os maravilhosos B&B com tudo que estes têm de bom, inclusive donos atenciosos.
Vá lá, mas só se você for campeão nacional em jogo de cintura. Guardo minha impressão de um subtexto no ar: por esse preço você quer mais?
Talvez funcione fora de temporada, mas... isso existe no Rio?

http://www.hostelrepublica.com.br/
E para que ninguém me acuse de má vontade: a localização é preciosa, a passos do Palácio do Catete, perto do Aterro do Flamengo, do Centro, do metrô.
Quanto ao banheiro abaixo, só na foto.

domingo, 20 de novembro de 2011

Rio com 32 alunos: segundo dia

Não conheço ninguém que em sã consciência simpatize com a figura do Carlos Lacerda -- ou, se simpatiza, não me conta!
Mas é impossível não pagar pau pro Aterro do Flamengo. Só que, para além do governo do Lacerda, tem mais gente por trás desse quase miraculoso parque linear. Em primeiro lugar, Affonso Eduardo Reidy, e sua companheira da vida toda, Carmen Portinho.
Reidy é tido por muitos como o melhor discípulo de Le Corbusier, mas aprendeu muito com Alfred Agache também.
E tem Lota de Macedo Soares, a escolhida por Lacerda para dirigir o projeto de urbanização do Aterro. E Burle Marx, claro, além de outra engenheira bacana, Berta Litchic (a primeira mulher a se formar pela Poli, em São Paulo).
Pensando bem, eta mulherada porreta: Berta, Carmen, Lota.
Claro que ao caminhar pelo aterro a turma não tinha isso em mente -- mesmo eu tendo feito um breve relato das circunstâncias do projeto e execucão. Mas ao caminhar por ali, vendo o mar, as árvores, os espaços de lazer, as pessoas ocupando despretensiosamente seus lugares nesse grande parque etc., tenho certeza de que esses futuros arquitetos entenderam tudo.
Pra terminar a caminhada, o Museu de Arte Moderna, maravilha também de Reidy e Carmen e, como se já não estivesse tudo perfeito, era o último dia de uma linda exposição da Louise Bourgeois.
Depois disso, a igreja mais linda do mundo, a mon avis: Outeiro da Gloria, uma pérola incrustrada no morro, uma pequena maravilha.
Haja perna. Claro que a tarde terminou em comilança e uma cervejinha, pois ninguém é de ferro.
Há dias em que penso em Lou Reed: just a Perfect Day.




quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Rio com 32 alunos

Minha concepção de vida perfeita incluiria ir pro Rio uma vez por mês. Até que tenho ido, mas sempre correndo. Dessa vez foi diferente, consegui lá ficar quatro dias.
A alegria já começou no avião da Avianca, pontual e confortável (ando fã dessa companhia) que, por excesso de aviões pousando em SDU no mesmo horário, ficou sobrevoando Angra. O sol da manhã batia naquelas águas e eu me perguntava se era um vôo comercial ou uma exibição.
Vôo perfeito, rumo ao albergue. Só com meus queridos alunos pra eu enfrentar uma hospedagem dessas. Voltarei ao assunto em outro post, só pra isso.
Muitos dos meninos visitavam o Rio pela primeira vez, e esta cidade precisa ser visitada por todos! Assim, saímos do Catete e caminhamos em direção aos arcos da Lapa observando os diversos estados de conservação das casas da Primeira República.Fiquei com a impressão de ter sentido um aroma de gentrificação no ar... espero estar enganada. De lá, uma pausa na Confeitaria Colombo, porque ninguém é de ferro e rumo ao Paço Imperial. Do outro lado do Arco do Telles: feirinha de artesanado, esculturas do Zé Rezende, almoço para todos os gostos e bolsos e um café no Centro Cultural Banco do Brasil.
Todos alimentados, rumo à praça XV e suas barcas para cruzar a baía até Niterói. Ali, impávido, o Museu de Arte Contemporânea, aquela linda nave que Oscar Niemeyer fez pousar na cidade.
Os cariocas que me desculpem, mas Niterói é bem legal, moraria ali sem susto.
De volta ao albergue, todos cansados e contentes. A moçada ainda foi sambar na Lapa
Eu tinha meus motivos para querer que eles gostassem muito do Rio, para além de sua óbvia beleza.
Acho que consegui.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Bate-pronto em Floripa

É uma tristeza, mas ando me especializando em bate-pronto. Anteontem jantei em Sampa e dormi em Florianópolis. Ontem, almocei em Floripa e ainda cheguei para um lançamento de livro em São Paulo.
O que se pode perceber de uma passagem tão meteórica é muito pouco. Anyway, foi a primeira vez que fiquei no norte da ilha e deu vontade de voltar e explorar. O vôo dura apenas 51 minutos ou seja, Floripa é muito perto de São Paulo.
E a Avianca (não ganho nada por observar isso) está dando um banho nas outras companhias que fazem vôos internos. Pontual, com staff gentil e visivelmente mais espaço entre as cadeiras para acomodarmos as perninhas. E dá um lanchinho mais ou menos, nada que lembre a indigência da Gol.
O Hotel Maria do Mar funciona muito bem para eventos, é simples, na medida e tem uma vista maravilhosa dos quartos, daquelas de acordar e gritar "bom dia" pro marzão besta.
Contudo, preciso fazer duas observações:
1. Por que servir suco artificial no café da manhã? Custaria muito alguém espremer rios de laranja em uma máquina? Faria toda a diferença, é horrível começar o dia sem suco e pior ainda com um troço que tem gosto de Tang (do que imagino que seja o gosto de Tang, claro);
2. Um hotel precisa ter café fresco, coado e delicioso. Ou então café espresso. Hoje, nada justifica aquele aparelho cujo nome eu desconheço, mas no qual o café fica esquentando o dia todo em botecos muito xinfrim. Sempre penso na canção do Arrigo Barnabé: sabor de que? Sabor de veneno!
De resto, espero voltar e tomar muita caipirinha com vista pro mar.


A imagem é do site do hotel. O bate-pronto foi tão expresso que nem câmera eu levei.

sábado, 22 de outubro de 2011

Rio, bate-pronto

Adoro o Rio, mais que tudo. Um bate pronto por lá, em duas jornadas intensas de trabalho, deixou algumas impressões.
1. O prédio do Arquivo Nacional é lindo demais, e seus jardins internos uma coisa.
2. Os taxistas oscilam entre os muito interessantes e divertidos e os insuportáveis. Um deles se recusou a me transportar porque a corrida era curta; outro me levou, mas reclamou até onde pôde. Quando eu disse, "pode encostar que vou de metrô", respondeu: "o comentário é só um adicional".
3. Ainda sobre os táxis, nem pensar em conseguir um às 19 horas no centro. Só cheguei ao aeroporto porque uns amigos me acudiram.
4. Só ouço falar em obras faraônicas como recuperar o Maracanã e derrubar a perimetral para fazer uma via mais rápida do Galeão ao centro. Nenhuma palavra sobre transporte público, por exemplo, um trem que ligue o aeroporto ao metrô, e uma boa expansão deste. Na famigerada copa, um japonês que fale inglês vai alugar um carro ao chegar, passear pela nova perimetral e dali descobrir o caminho pro Engenhão? Ou o taxista malandro-agulha vai levá-lo até Copacabana passando pela Barra, já que o "mané" não conhece nada?
5. O Saara é demais. Almocei lá nos dois dias, pois é do outro lado da praça da República, em frente ao Arquivo. Comida árabe das boas e muita lojinha... preciso voltar lá sem ser pra trabalhar, pra ver como é a correspondente carioca à nossa querida 25 de março, que adoro. Estou até agora pensando que devia ter passado num armazem que vendia frutinhas secas a granel.



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tiro n'água

E a viagem pro Amapá virou um hospital por aqui mesmo.
Agora vou sonhar que conheci Mazagão, a cidade moura que atravessou o Atlântico pra aportar na Amazônia.
Maybe next time.

sábado, 13 de agosto de 2011

Próxima parada: Macapá

Um telefonema num final de tarde, um convite para uma aula dos meus assuntos. Onde? Macapá!! Aceitei sem hesitar. Convite para perto de onde o Brasil "acaba", a apenas 500 km do Oiapoque. Ali, na cara do delta do Amazonas, não distante da Guiana Francesa (que como colonização é uma coisa feia, os franceses chamam de a França de além-mar), uma cidade de 500 mil habitantes que para mim é um mistério e será uma surpresa. Viro a internet do avesso e não acho um raio de uma informação relevante. Será que dá pra tomar banho de mar? E de rio?
Paciência, gafanhoto, está chegando a hora. Só penso num por do sol exatamente na linha do equador, de preferência nesse forte.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Reataurante em Hoi An

Hoje acordei com vontade de almoçar em Hoi An, pena que é muito longe...
Acho que é porque fiz mercado para cozinhar e os peixes e ervas me levaram de volta até um lindo domingo ensolarado de 2009.
O restaurante é o Mango Rooms, super indicado pelo guia The Lonely Planet. Minhas lembrancas incluem uma 333 (se diz bababa) geladinha olhando o rio e eis que uma música irrompe: Domingo de manhã, saí pra caçar rã!
Eu estava escutando Mutantes do outro lado do mundo.
A comida é maravilhosa, um atum semi-cru, entradas com manga e coco, doces divinos e um bom café vietnamita. Tudo isso custou algo como 20 dólares....
Quando voltar, farei um curso de culinária lá. É fácil e direto: o visitante escolhe o prato, vai pra cozinha e prepara junto com o chef e os cozinheiros. Isso custa uns dólares a mais, mas deve ser o máximo.
Enquanto isso não acontece, o que me resta é ver o chef Duc no vídeo:
E pensar no que fazer com aquele tanto de atum que larguei na geladeira.

domingo, 7 de agosto de 2011

O Museu Rodin na Bahia

Eu ia pra Bahia e não fui. Quem mandou? Agora sei pelo Facebook que vários amigos estão por lá e eu aqui. Domingo lindo em Sampa, imagine se estivesse olhando a Bahia de todos os Santos. Tentei falar com um querido amigo português, mas ele já havia deixado o hotel pra almoçar.
Eu queria dizer pra ele aproveitar o domingão e pegar uma prainha no Porto da Barra. Depois, rumar para o Palacete das Artes Rodin Bahia. Como meu amigo é europeu, eu ia pular essa bobajada de "um pedacinho da França em Salvador"etc., e falar pra ele aproveitar a visita.
Trata-se de um lindo casarão de 1912 no delicioso bairro da Graça, que foi restaurado e recebeu um anexo pra abrigar o museu. A idéia, como outras boas, saiu da cabeça de Emanoel Araújo, então diretor da Pinacoteca de São Paulo. Os convidados ao restauro/novo projeto foram os arquitetos da Brasil Arquitetura, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, que aprenderem muito com a musa e assunto da postagem anterior, Lina Bo Bardi. Aliás, para quem gosta desse assunto - arquitetura nova com antiga ou vice-versa - seria um bom roteiro visitar o Unhão e o Rodin no mesmo dia. Dá pra pensar na diferença das intervenções, assim como no que distingue um casarão setecentista de um belle époque tropical. E o que as adições contemporâneas podem fazer pra somar e valorizar.
De uns tempos pra cá, mais especificamente desde os anos 1990, há algo que faz os museus se assemelharem, e o Palacete Rodin não foge à regra: café, atividades educativas, exposições, palestras, música e vejam bem, até acervo. Museus são hoje sobretudo espaços de convivência. O que muitas vezes causa problemas, como uma arquitetura que fala mais alto que as obras, exposições inexpressivas, dente outros.
Como só estive lá uma vez, ainda não posso falar muito do Rodin de Salvador.Mas é legal: tem lindas árvores num jardim que possui quatro obras de Rodin, lá dentro tem sempre algo do mestre da escultura e é um lindo lugar nessa cidade linda e complicada.
A novidade bacana é que o museu começou um projeto chamado Rodin Itinerante, que leva as obras do escultor a outras paragens. A cidade escolhida para o início do circuito foi Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo. Ai, acho que se eu estivesse em Salvador com meus amigos aproveitaria para conhecer Santo Amaro e Cachoeira...
Vale a pena:
Palacete das Artes - Rodin Bahia
Rua da Graça, 289 - Graça
40150.060 - Salvador, Bahia, Brasil
Tel.: +55 (71) 3117-6987 / 6910
http://www.palacetedasartes.ba.gov.br/

Por pura preguiça dominical, as imagens do museu são da internet mesmo, pois conheci o lugar em 2009 e minhas fotos ficaram em outro computador.


Mais informações: http://www.palacetedasartes.ba.gov.br/

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Bahia, eu volto pra lá!

Eu iria pra Bahia logo mais, mas por mil motivos desisti.
O que eu faria por lá? Bom, eu sinto uma alegria genuína já ao sair do aeroporto, ao atravessar o bambuzal. Ouvi rumores de que o dito aeroporto voltará a se chamar "Dois de julho" e espero que seja verdade e ainda lembro do susto, em pleno vôo quando escutei que estávamos há minutos de pousar no aeroporto Luis Eduardo Magalhães...
Bom, Bahia não é ACM e este já foi pro outro lado da vida. E a enigmática Salvador continua por lá.
Se por lá estivesse, sairia direto do aeroporto pro meu hotel preferido na cidade. Eu simplesmente adoro o Catharina Paraguaçu. Por seu casarão bem recuperado, pelo artesanato, pela localização. É só tomar um taxi e dizer que vai do lado do acarajé de Dira! O Rio Vermelho é um bairro adorável e estratégico, inclusive pelos acarajés. Nesse hotel, após um dia eu já escutava, com aquele acento maravilhoso: "Sil, como vc vai querer seus ovos, no ponto ou mais molinho?" Apenas 23 apartamentos e funcionários gentis, é assim que funciona.
Se por lá estivesse, depois de deixar a mala no hotel, rumaria direto pro Solar o Unhão, onde funciona o Museu de Arte Moderna. Se tivesse uma exposição bacana, ótimo. Caso contrário, ficaria por lá só para olhar a bela construção setecentista recuperada no início dos anos 1960 por Lina Bo Bardi, que andava arrasando pela Bahia. Minha ligação com Salvador eu devo a essa senhora, então o mínimo que faço é prestar tributo.
Era uma casa meio abandonada, embora tombada, quando a avenida do Contorno foi construída. Lina derrubou parte da construção, esvaziou o espaço interno e adaptou tudo para abrigar um Museu de Arte Popular que foi fechado após o golpe de 1964. Virou MAM, o que é inadequado, pois as obras sofrem à beira do mar. Daí as janelas hermeticamente fechadas e outras alterações.
Never mind. A beleza da intervenção de Lina ainda está lá, e a vista para a maior baía do país também.
Como a página do museu tem fotos atuais do espaço, as imagens abaixo são do tempo do Museu de Arte Popular.




sábado, 23 de julho de 2011

Dois lados, dos muitos, da mesma Serra

A Serra da Mantiqueira é um maciço e tanto, e abriga um mosaico de cidades interessantes. Visitei duas delas nesse finds. Campos do Jordão, que conheci na infância, e para onde não voltei muito -- aúltima vez deve fazer bem mais de quinze anos. E São Bendo do Sapucaí, que não conhecia.Trinta e três quilometros as separam, mas quase tudo as difere.
Campos está cada dia mais fake, e a tradução de fake, segundo um amigo, é "feiquedói". Para mim é algo incompreensível, o que o consumo consegue imprimir numa paisagem tão privilegiada. Lembrei de meu pai dizendo o clichê "Suíça brasileira", mas o que se vê por lá é um simulacro do que pode ser a vida no inverno. Não vi nada parecido na Suíça, ok, fui no verão e não para uma estação de esqui; mas já passei um dia em Cortina d'Ampezzo, um pouco cafoninha, mas nada que se compare...para mim continua incompreensível o gesto de levar a vida toda na mala de viagem. Por lá temos os mesmo restaurantes de São Paulo, as mesmas lojas, em meio a outras que vendem um clima de inverno, e dá-lhe cachecol, bota, mashmellow e lugar comum.
enfin, em boa companhia, com bons vinhos e boa conversa tudo fica muito bom. O Horto continua o máximo e o Festival de Inverno de fato vale a pena. Estou até agora com aquele Stravisnki, bem executado pela Orquestra da Petrobrás sob a batuta do Karabchewsky, na alma, enchendo a alma de alegria e sentimento de vanguarda.
A poucos quilometros dali, Sapucaí. Pequena, despojada, com pousadas espertas.Uma cidade de verdade, com gente que ali vive, planta, com remanescentes de um quilombo, com vista pra mesma onipresente Pedra do Baú. Tem até uma briga entre as cidades, pois a pedra fica em São Bento e é cartão postal de Campos...
No meio das duas, um restaurante imperdível e surpreendentemente vazio. O Empório dos Mellos é um achado de lugar: lindo, descolado, simpático e a comida é tudo. E o pessoal lé em Campos curtindo a fila do Baden Baden... deixa eles!
Se estiver pela serra, vá lá, correndo: http://www.emporiodosmellos.com.br/index.php
Já começo a pensar num começo de férias pro próximo inverno: uns dias em Parati na FLIP e depois outros na serra ouvindo boa música, comendo super bem e desvendando a serra em São Bento do Sapucaí, Gonçalves ou São Francisco Xavier.




Nas fotos, a entrada do Horto, o restaurante e a Pedra do Baú, vista de São Bento do Sapucaí.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Auguste Perret

O francês Auguste Perret nasceu em 1874 - ou seja, pouca coisa mais velho do que os arquitetos modernistas -- e estudou arquitetura na Belgica. Sortudo, herdou do pai a firma de construção Perret et frères. Uma de suas primeiras obras, o edifício de apartamentos da Rue Franklin, em Paris, é de 1903.
Em Paris, vale a pena alterar qualquer caminho só pra passar em frente. É lindo, cheio de detalhes e de um tocante pioneirismo no uso do concreto armado. Tratei de conhecer agora pouco, em junho. É uma beleza. Do lado de fora, ficava me perguntando como seria o apartamento e achei a planta na internet:



O apartamento é ainda nos moldes da casa burguesa do século XIX, com boudoir e fumoir, demarcando bens os domínios masculinos e femininos no espaço doméstico. Mas dá pra imaginar o potencial com uma reforma sutil, discreta.
Tenho essa mania que já virou objeto de riso entre meus amigos. Sempre que viajo fico imaginando onde gostaria de morar. Em Paris são vários os meus endereços, mas no momento viveria feliz na Rue Franklin.
Em São Paulo, Auguste Perret foi responsável pelo edifício onde funciona o museu da FAAP. O fato é desconsiderado pela direção dessa instituição de ensino, famosa por se lixar para o patrimônio cultural, mesmo estando na fronteira de dois lindos bairros paulistanos. E é considerado irrelevante pelos órgãos do patrimônio, que já deviam ter tombado a casa de Armando Penteado há tempos. Uma pena.
Em Paris, não passa desapercebido. Ainda aprenderemos a considerar melhor o que temos de cultura material nas nossas cidades.







quarta-feira, 29 de junho de 2011

Clichê e bom


Paris é fotogênica e, se não fosse chover no molhado em relação à fotografia, diria que Paris é toda clichê.
Se não tivesse acabado de voltar, estaria roxa de vontade de ir, de saudade doída mesmo.
Tudo por causa do Woody Allen, que rompeu uma jornada de filmes preguiçosos -- como Vicky Cristina Barcelona e Você vai encontrar o homem dos seus sonhos -- e, mesmo sem chegar à perfeição de um Manhattan, fez um belo filme.
Lá está a Paris clichê do turista, o cartão postal, a feirinha e a onipresente Torre Eiffel. E a isso ele mescla a Paris imaginária de cada um que para lá viaja -- à exceção, claro, do "republicano tosco consumista sem imaginação" que empurra cada vez mais o protagonista rumo aos seus desejos.
E mais não conto, pois merece ser visto.
Saí caminhando pelo meu bairro, pensando em qual seria a "minha Paris". Acho que tomaria um kir royal com Léger, caminharia pela margem esquerda do Sena, morreria por uma roupa desenhada pela Sonia Delaunay, iria, claro à Expo Art-Déco de 1925 e ficaria em dúvida entre querer morar numa casa do Corbusier ou do Mallet Stevens.
Correndo pro cinema: http://insidemovies.ew.com/2011/03/28/midnight-in-paris-woody-allen-trailer/#more-33396
Aliás, poucas cidades têm tantas salas de cinema.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Sempre teremos Paris

A primeira vez que visitei Paris, fiz tudo que um turista tem direito. Passei um dia inteiro no Louvre, outro no d'Orsay, subi na torre (eu sempre subo, adoro). Não era nenhuma meinina, conheci a cidade com mais de 30 anos, mas foi inesquecível. Só que voltei, e voltei várias vezes em períodos que duraram de um dia (entre duas outras cidades, claro) a três meses (um pósdoc).
Então, se juntarmos a isso que é uma das cidades mais narradas do mundo, e há pelo menos um século e meio (acho que só perde pra Veneza), o que posso falar de Paris? O que posso contar da minha curta viagem do começo do mês?
Conto que vi a exposição do Manet. Manet, o inventor do moderno. Filas homéricas na porta no Museu d'Orsay; visitas guiadas detestáveis que ocupam de modo incômodo cada sala(caramba, e o resto dos mortais precisa esperar que os grupos terminem?); uma velhinha francesa cadeirante que dava bengaladas em quem ficasse entre ela e o quadro... tudo isso se esvaneceu quando entrei em uma sala e vi o Dejeneur sur l'herbe numa parede a a Olympia na outra.
Muito bem curada, estabelecendo as relações entre Manet e os salões, entre ele e Baudelaire, sua fase religiosa etc. E o gosto de ver tanta obra junta no mesmo lugar e hora. Quadros conhecidos, como os já citados seguidos por outros menos (ao menos para mim) como o de um menino soprando bolhas de sabão. Uma coisa. Imperdível.
Se dinheiro fosse capim ou se existisse teletransporte, eu voltaria a Paris só para ver de novo.
Mas isso é Paris, d'acc? Turistas chatos, velhinhas idem, museus cheios e mostras magníficas. Com horário de verão é melhor ainda, pois dá pra sair do museu e caminhar um pouco à beira do Sena.
Eu nem sabia que gostava tanto do Manet. Paris tem disso, me revela o que eu ainda não sei.
Se puder, se tiver a minima chance, vá lá: http://www.musee-orsay.fr/index.php?id=649&tx_ttnews[tt_news]=27127&no_cache=1

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma tarde no Porto

O aeroporto do Porto tem um metrô muito eficiente, que passa de vinte em vinte minutos e faz a ligação com a cidade. Aproveitando dessa facilidade, cheguei num domingo de manhã e assim que me desvencilhei da imigração (as malas seguiram para Paris), me mandei pra Casa Serralves. Ao chegar, a surpresa de ver que aqueles jardins que tinha conhecido num inverno rigoroso eram muito mais lindos na primavera. Uma exposição sobre performance, que a princípio nem é meu assunto preferido, mas muito boa. Eu nunca tinha visto as obras da Yoko Ono, dos bons tempos em que conheceu o John, e gostei demais. Depois, um almoço no delicioso restaurante com vista. E, para me refazer do vôo, uma boa caminhada pelos jardins. Em meio a isso tudo, a arquitetura do Siza.
Uma parada na livraria do museu, e já carreguei mais peso...
E rumo ao destino, Paris. Escalas assim valem muito a pena.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Equação que acaba sendo boa

A equação meus recursos vs o preço das passagens acabou resultando num vôo estranho. Paris via Porto com uma escala de algumas horas. A solução será despachar as malas daqui de Guarulhos, avisar que não vou ficar dando mole no aerporto, aproveitar a boa estrutura de transporte portuguesa e me mandar pra passear.
A primeira idéia é um domingo na Fundação Serralves. Sempre tem uma boa exposição e mesmo que não tenha nada demais nesse dia o jardim é lindo, a casa é um art-déco primoroso, o restaurante é bom e o museu é do Siza.
Ave, Siza




http://www.serralves.pt/

Depois disso, um vôo curtinho e chegarei em Paris por Orly, menos e mais perto do que CDG.
Às vezes as más equações dão bons resultados.

sábado, 28 de maio de 2011

Feminista on the road

Pensamento do dia, enquanto termino uns trabalhos, coloco louça na lavadora e começo a pensar no que levar na próxima viagem:
Uma mulher moderna viaja sozinha, se for o caso, vai até o fim do mundo se quiser. Mas precisa saber levar apenas aquilo que pode carregar. Deve pensar em escadas rolantes desligadas, em edifícios sem elevador, em translados de aeroportos a trens. Deve prever dias cansados nos quais uma mala ganha realmente a conotação de "mala", fardo, porre.
Uma feminista elegante vai a Paris de mala de mão, com um espacinho vazio para trazer, talvez, um sapato lindo ou um vestido idem. E alguns cosméticos, porque ninguém é de ferro e lá temos Lush, marcas orgânicas, creminhos naturebas gregos.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Aveiro

Aveiro para mim faz pensar em doces de ovos. Meu ex-cunhado adorava (adora, penso, só que não é mais meu cunhado), comia num vidro sextavado, às colheradas. F., uma amiga-de-infância que fiz em Paris em dezembro, mora lá e sabendo da minha passagem por Portugal, me convidou para um final de semana. Difícil então separar Aveiro da hospitalidade calorosa. Ao chegar, uma mesa com mil delícias e... uns pasteizinhos com recheio de ovos mole, uma maravilha.
Aveiro é dominada em seu centro por uma ria, o que faz com que alguns a chamem de Veneza de Portugal. Tolice. Veneza é obra única, irrepetível, nem tudo que tem água ou canal vira Veneza. Uma ria, aprendi recentemte, é um pedaço de mar que entra pela terra, então o charmoso trecho d'água que corta Aveiro é de água salobra e segundo os moradores, às vezes cheira e muito. Bom, Veneza também...


Aveiro é uma graça. Um pouco como Coimbra, tem uma população estudantil enorme, que incide mesmo sobre a cara da cidade, enche suas ruas. E tem supresas. Vou revelar duas.
A cidade é cheia de casas art-nouveau, ou como dizem por lá, "arte nova". Ainda hei de entender a razão do estilo ter agradado por lá (sempre há uma razão), mas contento-me em mostrar algumas, a maioria bem restaurada, e todas com plaquinhas indicativas no chão, explicando o que aquele imóvel foi um dia.




F., sabendo de algumas manias minhas, me levou para conhecer uma vila operária cuja fábrica ainda funciona. Ainda funciona é modo de falar. É uma super fábrica de louça, que faz de faiança brasonada (credo, caretice tem limite) até peças contemporâneas, o que inclui algumas desenhadas pelo meu ídolo Álvaro Siza Vieira. Ainda bem que fui num domingo e a lojinha estava fechada, ou teria um rombo no saldo bancário e um problema para carregar peças frágeis pelo comboio e depois no avião. Ainda bem, nada! Queria é voltar lá e comprar tudo que fosse branco e feito pelo Siza.
A lojinha fechada, mas o museu aberto, e pude entender a evolução do fabrico da porcelana, desde as primeiras, passando pelas decalcadas (parecia capítulo de livro do Adrian Forty) e passando pela... Arte Nova!! Que tanto isso pegou por lá, ainda hei de descobrir.


O site da fábrica com detalhes sobre a vila:
http://www.vistaalegreatlantis.com/contents.aspx/11/A%20F%C3%A1brica/

Ah, além dos docinhos, Aveiro é a terra do bacalhau. Posso dizer que isso é a mais pura verdade.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Atira-te!!!

Dizem que Lisboa tem apenas 600 mil habitantes. É pouco pros nossos padrões urbanos. Aqui, cidades do interior podem ter um milhão, e são vistas como cidades médias. E algumas são mais sem-graça do que xuxu sem tempero.
Lisboa é na medida. Os tais 600 mil estão espalhados de modo a formar uma mancha grande, mas a cidade tem uma desejável densidade urbana. Os milhares de prédios baixinhos quase nunca são interrompidos por espigões a perturbar a paisagem. Há lindos parque e praças e muitas das ruas -- com seus nomes maravilhosos -- são bastante arborizadas.
Ou seja, Lisboa na primavera é tudo.
Não tem aquele excesso de estímulos de cidades como Londres, Paris ou Barcelona, mas tem uma oferta cultural e comercial de fazer inveja. Museus incríveis, muitos cinemas -- embora o decréscimo de salas de rua também por lá se faça sentir -- cine-teatros, teatros, além de alguns bairros boêmios.
Passei uma semana feliz feito pinto no lixo pesquisando na Biblioteca de Arte da Gulbenkian, e já falei de seu café e seus jardins. Nos intervalos, passeava.
Uma noite, fui jantar, em companhia de amigos queridos no Atira-te ao Rio, passeio que vale por todas as etapas. Descendo do metro no Cais do Sodré, toma-se o barco que atravessa o Tejo. Do outro lado, é preciso caminhar um pouco por uma ruazinha entre o rio e edifícios em ruínas, sem muita iluminação. Problema nenhum, todo mundo lá faz isso. Ao chegar, literalmente, um restaurante cuja janela toca as águas do Tejo. E a comida é ótima, moderna, um diálogo entre nossas tradições culinárias e a dos amigos portugueses. Por exemplo: bolinho de bacalhau com mandioca, de comer de olhos fechados. Como sói acontecer por lá, é barato se comparado ao que se gasta para comer -- comer bem e comer mal -- numa cidade como São Paulo.
Na volta, a caminho do barco, mezzo embriagada e feliz, atravessei o caminho iluminado apenas pela lua crescente e pelas luzes de Lisboa que refletiam do outro lado. Dava pra ver pontos da cidade como o Castelo São Jorge, a baixa e, claro, a ponte 25 de abril, minha preferida (pela data e por parecer a Golden Gate de São Francisco).
A vontade era mesmo de me atirar.
Vá lá: http://www.atirateaorio.pt/
Atirar-se ao Chiado, aos caminhos beira-rio, ao bairro de Alcântara, às inúmeras ruelas e aos muitos becos com arcos.
Na dúvida, atira-te à Lisboa.




terça-feira, 17 de maio de 2011

Coimbra

Algumas cidades padecem da proximidade de cidades muito interessantes, então passam meio que desapercebidas, subestimadas. Lembro que quando viajei pra Valencia, na Espanha, muitos me disseram que a cidade não tinha a menor graça. Ledo engano: Valencia tem um casco viejo pra ninguém botar defeito, uma vida de rua intensa, museus que fariam a alegria de muita cidade brasileira, mas... como competir com Madri, Barcelona, Sevilha?
Coimbra é um pouco assim. Fica entre Lisboa e Porto, duas grandes cidades. E não tem o charme passadista de Óbidos, por exemplo.
Mas é muito legal. Uma amiga diz que Coimbra não é óbvia, não se ama de cara. Tem uma geografia meio esquisita, como que partida entre altos e baixos. Mas é uma delícia se perder em suas ruelas. Acho que nunca fiz o trajeto entre a Alta e a Baixa pelas mesmas ruas. Sempre descubro um ângulo novo, uma casinha na qual não havia reparado, algo para ver.
Tem 120 mil habitantes, mas cerca de 30% desse número é composto por estudantes que ganham as ruas com suas becas pretas como bandos de pássaros. E muitas das casas na zona mais antiga são repúblicas -- há uma verdadeira cultura dessas residências compartilhadas.
A universidade, no alto, domina a colina. Entre seus feiosos edifícios do período de Salazar, que trazem mesmo as marcas de uma arquitetura fascista, temos a parte velha da mesma. A biblioteca joanina é imperdível, com suas estantes de jacarandá, pau rosa e adornos de ouro, muito ouro. Em uma viagem para lá, creio que em 2006, um colega brincou que estávamos em missão de repatriação do patrimônio brasileiro e a senhora que cuidava da biblioteca entrou em pânico -- pois é um pouco verdade que os portugueses não são muito afeitos ao duplo sentido ou às brincadeirinhas verbais.
Descendo da universidade, passa-se pela igreja da Sé, por um museu arqueológico, casinhas e mais casinhas, ruelas e mais ruelas, chega-se à baixa e com uma breve caminhada estamos no rio Mondego. Beleza de rio, de onde podemos ver o convento de Santa Clara e, infelizmente, as luzes de um centro comercial (como eles chamam os shoppings) com seus neons a perturbar uma paisagem que de resto seria perfeita.
Meus amigos que lá residem consideram a cidade limitada, um tanto conservadora. Sim, uma cidade pequena, triste sina, sempre falta algo. Mas sobra em céu azul e surpresas. Não se deve passar de Lisboa ao Porto sem saltar do comboio em Coimbra.
E mais: come-se bem por ali. Come-se bem em Portugal como um todo, e por muito pouco se comparamos com os restaurantes brasileiros. Mas em Coimbra come-se especialmente bem. Uma tasquinha melhor do que a outra.
E quem por lá estiver deve alugar um carro por um dia e passear em Cunímbriga, sítio arqueológico que data da ocupação romana. Para quem, como eu, aprecia mosaicos, é de enlouquecer.