quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Cerro Santa Lucia, Santiago

O que fazer em um final de tarde em Santiago, sabendo que no verão temos luz até as 21hs? Subir no Cerro Santa Lucia! Parece que ali se fundou a cidade de Santiago de Nueva Extremadura, em 1541. Trata-se de um monte em pleno centro da cidade, mais baixo do que o San Cristobal, mas alto o bastante para nos  brindar com uma linda vista.
Para subir os quase setenta metros até o topo, é preciso um pouco de perna, pois é uma escada atrás da outra.
Uma vez lá, o que fazer? Nada. Pensar na vida, olhar a cidade num 360º, tomar um picolé. É um parque vertical, algo assim.





Na saída, vale passar pelo Centro de Exposição e Venda de Arte Indígena. Uma tienda relativamente pequena com um belo artesanato. O par de brincos Mapuche que comprei que o diga.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Os cerros de Santiago e um zoológico bacán

Os guias de Santiago sempre sugerem a visita a dois cerros: Santa Lucia, em pleno centro, e San Cristobal. Este último foi cenário de algumas marcadas de minha parte em outras viagens. Uma vez, subi de funicular e resolvi descer caminhando -- não estava sozinha, ou infartaria. Só que ao invés de descer por onde subi, o que seria óbvio, fui andando meio a esmo, na confiança de que pra baixo os santos e a lei da gravidade sempre ajudam. Me perdi na trilha, e como só me restava continuar descendo, fui, até chegar num bairro lindo, chic, exclusivo e muito distante de onde tinhamos deixado o carro. Se um gringo fizesse isso na Tijuca eu o chamaria de mané. Pois é... e pra piorar começou a anoitecer. Nada aconteceu, mas foi uma longa hora de muito medo.
Anos depois, resolvi subir de teleférico. Só que era horrível, pequeno, alto, balançava muito e eu fiquei o trajeto todo de olhos fechados de medo. Soube que foi desativado, certamente meu temor não era apenas por conta da minha proverbial vertigem.
Agora fui apenas para conhecer o zoológico. Um zoo com vista pra cidade, isso é uma boa idéia!
As pessoas -- e eu me incluo -- têm a mania de levar criança pequena ao zoo. Idéia tola, pois os pequenos sentem calor, pedem colo, cansam de andar tanto...  Desta vez, fui com jovens ente 16 e 21, que adoraram me dar aulas. Sim, porque essa geração cresceu assistindo Discovery Channel, de modo que eles pareciam uma enciclopédia do mundo animal. E por isso mesmo aproveitaram muito.
Uma tarde esplêndida. Subimos de funicular e chegamos ao zoo. Pena o calor saariano, que derrubou quase todos os bichos. mas tem de tudo: cobra trocando de pele, urso de saco cheio, aves maravilhosas e pinguins bem humorados e exibidos. E aqueles que são, a meu ver, a perfeição da natureza: felinos de grande porte. Todos dormindo, entediados....
A descida pelo caminho certo é rápida e tranquila.
Abaixo, alguns bichos e a vista da cidade.





Chegar lá é fácil: metrô estação Baquedano e uma caminhadinha. Na descida (pelo caminho certo, claro), estamos em uma vizinhança deliciosa, cheia de verde e casas legais, inclusive uma onde morou Neruda.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ainda no Chile: a memória difícil

Em 1995 conheci Berlim. O muro havia sido derrubado há poucos anos, a cidade parecia um canteiro de obras, e eu ali no Hotel Hilton, chiquérrimo em meio ao que tinha sido a parte comunista da cidade. Findo o congresso, entrei num tour pedestre por aquele lado da cidade. A guia era uma estudante de história e nos conduziu por edifícios com marcas de bala, ruínas, pequenos memoriais que lembravam a ausência de pessoas ou de livros - este, defronte ao que foi um dia uma biblioteca incendiada pelos nazistas. Quando chegamos a uma escultura de Käthe Kollwitz, uma mãe com o filho adulto morto nos braços, chamada pelos berlinenses de "Pietà", eu já estava rendida. Era um domingo ensolarado e eu voltei pro hotel totalmente perturbada. Anos depois, foi o que de mais forte ficou de Berlim.
Isso voltou à baila em Santiago depois de visitar o Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos.
Inaugurado em 2009 pela presidente/a Michelle Bachelet, é um espaço com o objetivo de dar visibilidade "às violações dos direitos humanos cometidos pelo estado chileno entre 1973 e 1990". Corajosa, a Michelle. Declarou-se pró-escolha no tema do aborto, e isso em um país católico. E encarou esse passado sombrio. Alô, Dilma! Uma modesta eleitora pede que você olhe pra Michelle nesses dois itens!!
O acerto do museu começa em sua localização. É praticamente dentro de uma estação do metrô. Quem salta na estação Quinta Normal quase que cai na entrada no museu. E a entrada é gratuita. Ou seja, sem desculpa: está lá pra ser visitado.
Logo ao entrar, um painel com diversos exemplos de comissões de verdade e medidas reparatórias: da Alemanha aos países africanos, o que tem sido feito para se minimizar e conhecer os erros do passado? Quem não está no painel? O Brasil, por omissão do museu ou porque não enfrentamos direito ainda esse fantasma recente?
Daí pra frente a visita não é pros fracos. O museu é basicamente mídia e logo na primeira sala temos um filme da tomada do Palácio de La Moneda em 11 de setembro de 1973. Para quem havia visitado o palácio um dia antes, foi de lascar vê-lo incendiado. Mas pior, de cortar o coração foi ver dois soldados trazendo o corpo de Salvador Allende enrolado num cobertor, como um indigente. São muitos os vídeos e imagino que alguns tenham ficado escondidos por anos. Por conta do entusiasmo da eleição do Allende, havia muitos estrangeiros em Santiago (como já mostraram os filmes Missing e A culpa é do Fildel, de Gavras pai e Gavras filha). E muitos filmaram o que se passou naquele dia sem saber bem o que estava rolando. Há um cinegrafista que anuncia que as tropas estão chegando possivelmente para defender o presidente...
O discurso final do Allende é de quem sabe que vai morrer, tocante, emocionado. Mas o que mais surpreende são os discursos dos militares. No primeiro pronunciamento do golpe, ouvimos que o Chile precisa da ajuda de todos menos, claro, dos marxistas! "Pura broma", ouvi do meu filho e das minhas sobrinhas. Parece mesmo broma (piada), mas em 1973 isso equivalia a uma sentença de morte. Como parece hoje piada saber de uma conhecida dos meus pais que foi ao enterro do Neruda (que infartou 12 dias depois do golpe) e até hoje não voltou. Pois é.
Foi legal visitar o museu acompanhada de jovens entre 16 e 21, que ficaram bastante impressionados. Eu fiquei e não sou chilena, nunca fui presa ou torturada, não perdi ninguém por política. E saí de lá com um nó na garganta do tamanho de um elefante. Saímos todos. Imagino o que é a visita para quem de fato sofreu o golpe, se recolheu ao toque, teve alguém desaparecido no estádio. De lascar.
"The past is a foreign country: they do things differently there", escreveu L.P. Hartley em um livro que eu adorava quando adolescente. Sim, o passado recente pode ser mesmo um território estranho, mas vale a visita. Nem que seja pra respirar fundo ao sair e olhar o céu.
As imagens são de internet, pois não pude fotografar nada no museu.
Ah! E a arquitetura é bárbara.







terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Roberto Matta no La Moneda

Não se pode passar pelo México sem um périplo Diego-Frida, tampouco pela Colômbia sem olhar o Botero. Como será para o Brasil? Eu diria sempre Tarsila, mas diversos amigos discordariam, diriam que sou embriagada pelo modernismo etc. Pode ser. Alguns dirão Portinari....
Ainda irei pra Montevideo só pra ver as obras do Torres-Garcia, que aliás acabo de ver na Pinacoteca em São Paulo mesmo.
Será que essa idéia de que a um país corresponde um pintor vale mesmo para a América Latina? Ou é o nosso desconhecimento dos menos laureados? Pode ser, pois seria ridículo, por exemplo, dizer que a França é a terra de Manet, Monet ou David.


Isso tudo pra dizer que gostei de ter visto uma linda mostra do Roberto Matta no Centro Cultural Palácio de La Moneda. Matta, se não tem a aura popular e pop de uma Frida ou um Botero - acho que o personagem que faz isso no Chile não é um pintor e sim um poeta, Pablo Neruda -- é um orgulho nacional, o artista que obteve reconhecimento na Europa.
O bacana para quem como eu pouco o conhecia foi ver juntas obras espalhadas por coleções particulares e por diversos museus como Tate de Londres, Centro de Arte Reina Sofía e Thyssen-Bornemisza de Madri, Rufino Tamayo do México, Nacional de Belas Artes da Venezuel,; Herbert F. Johnson e Lucid Art Foundation dos Estados Unidos, Stedelijk Museum da Holanda e Casa de las Américas de La Habana.
O nome da exposição, Matta 11-11-11 remete à data de nascimento do pintor e confere um quê de número mágico, cabalístico, surreal.
Roberto Antonio Sebastian Matta Echaurren, para muitos o último dos surrealistas, foi para Paris nos anos 1930, em meio a turbulências políticas em seu país - como se a Europa estivesse bem calminha - e uma vez lá colaborou com Le Corbusier, aproximou-se do consul chileno na Espanha, o poeta Neruda e com ele, de Garcia-Lorca. Daí pra André Breton, Salvador Dali e companhia limitada foi um passo e ele, pelo que consegui apreender, viveu aqueles anos retratados por James Clifford em seu delicioso texto sobre o "surrealismo etnográfico".
Décadas mais tarde, como tantos outros, apoiou Salvador Allende.
Algo de profundamente chileno, de sua passagem longa pela Europa, de um período novaiorquino,  mais uma pegada política libertária e maravilhosamente erótica: tudo isso está presente nas telas gigantescas, nos desenhos e esculturas expostos no la Moneda.
No dia em que cheguei em Sangiago o gramado do palácio ainda estava inerditado, represália às manifestações mais do que corretas dos jovens e estudantes. Tempos bicudos, vivemos aqui e lá, hein? Ainda bem que quando voltei para a exposição as grades já tinham disdo removidas, ou seria um contraste insuportável entre a paralisia no lado de fora e a energia que, do lado de dentro, as obras emanavam.
Interessante foi, depois de passar pelo Palácio de La Moneda, visitar o Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos. Mas esse fica pra depois.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Atravessar a cordilheira




Ainda hei de fazer isso de carro. Mas mesmo voando, nunca me cansarei de admirar a paisagem bruta dos Andes!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Em Santiago do Chile

Santiago é uma cidade bem legal. Bonita, fácil, com um metrô bacana que ajuda e muito nossa locomoção. Não é, nem de longe, minha primeira vez por estas bandas, então, vamos direto aos fatos objetivos para depois irmos ao que interessa.
Muitos vôos à disposição, da Tam, Lan e Gol. Como vai ficar com a junção Tam-Lan? Dizem que vai diminuir a oferta e aumentar o preço.... só esperando pra ver. Vim de Tam  num vôo perfeito, pontual e não me canso de ver a cordilheira, quase ao chegar. No verão é bonita e no inverno é uma das coisas mais impactantes que existem.
Estou no Premium Tours & Lodging Lyon, que achei no indefectível Booking.com. Um flat legal, honesto, bonito, muito bem localizado no coração de Providencia, um dos distritos mais legais da cidade. Dá pra três pessoas, pois tem uma cama de casal e um sofá-cama; tem louça, microondas, forno, fogão, chaleira elétrica, enfim, tudo para um lanchinho em casa se for o caso. E TV a cabo, ar condicionado (fundamental, pois Santiago é quente), sala de ginástica e uma piscininha na cobertura. Tudo isso por 90 dólares por dia, adorei. No site da Booking diz que fica a 500 m do metrô, estação Los Leones, mas é muito mais perto. E todo comércio da cidade está nas ruas mais próximas, das lojas de departamento como Fallabela e Almacenes Paris ao comercinho pequeno, de rua, supermercados, sem falar que tem até um café Juan Valdez.
Vista pra cordilheira? Bom, aqui vale o que meu filho um dia disse sobre Paris: todo lugar tem vista pra torre! Aqui vemos os imponentes Andes da piscina, do terraço, da rua.
O que fazer em Santiago? Muita coisa. Depois eu volto pra falar dos museus.


Ah, e o vinho nacional é bom e barato.