terça-feira, 16 de agosto de 2016

Terceiro dia

Bom a essas alturas eu já estava em casa.
os dias continuavam cinzentos, nem frio nem quente, algo que uma jaqueta peluda resolvia. Nada de casaco.
Dias bons para se caminhar.
Aí acordei tarde (estava em Paris, mas era uma semana de descanso), tomei café tarde, respondi umas mensagens etc.
E resolvi fazer algo com que sempre sonhei: o camino das pontes.
Sim, andar o Sena até o meu destino. Olhei no mapa, dava uns 4 kms, e pouco se bem me lembro. na real, acho que foi mais pois fui bordejando o Sena, mas decidi que era assim que iria do até o Musée du Quai Branly.
Mas antes das pontes e do museu, um minutos para nossos comerciais, e uma revelação.
Estou cada dia mais natureba, quase obcecada com alimentação. Uma verdadeira Bela Gil. E a viagem caiu no meio de uma longa dieta. Isso coloca aquele dilema leninista: que fazer?
Descobri, do lado da minha casa, a solução: Le Paradis du Fruits.
Sou viciada em suco verde. Verde mesmo, que não sou fraca, desses que travam. Couve líquida. Os deles são maravilhosos. O de cenoura e gengibre, um céu.
Como tenho uma infame tendência de criar rotinas em qualquer lugar que visito, pronto, virei habitué nesses dias. Pra melhorar, tinha wifi, e em viagens isso é bom, pois nunca compro os pacotes que nossas companhias telefônicas oferecem.
Melhora? Melhora! Muita quinoa, muito vegetal, muito cogumelo.
Deu até saudades. Continuo em dieta...
Bem alimentada, lá fui eu, de ponte em ponte.
Maravilhada, claro. No meio deu preguiça, mas fui firme e lá cheguei em cerca de uma hora, caminhando e cantando :)
Porque fui a esse museu?
Pra tirar a teima. Visitei quando era novinho em folha, em 2007 e impliquei. Tenho uma lista de implicâncias conceituais, que agora não vêm ao caso.
Aí que passei anos me perguntando se não tinha sido severa demais com o museu. Então vamos lá, por partes.
1. O prédio. Gosto do Jean Nouvel. Adoro o Instituto do Mundo Árabe e gosto muito da Fundação Cartier. Tem uma torre dele em Barcelona que não vi e não gostei. E, definitivamente, acho o prédio do Quai Branly muito bobo. Bobo mesmo, ininteligível por fora e meio ridículo, com umas cavernas, por dentro.
2. O acervo. De encher os olhos. Uma peça mais bonita do que a outra e no conjunto deixam qualquer um sem fôlego. De tudo que é canto do mundo e com as mais diversas funções. De enlouquecer.
3. A museografia. Aí que pegou em 2017 e continua pegando. não confio na divisão geográfica ampla. América não é um bloco, então África não deve ser também. Mas a escuridão do museu com os pontos de luz sobre as peças tem um belo efeito dramático.
Voltei caminhando, pensando.
Fiz as pazes com o museu, mas ainda acho que deixa a desejar.
Nesse dia jantamos em casa: dos de cabillaud e vinho.
Minha viagem chegava à sua metade.




Segundo dia em Paris

Refeita da viagem, resolvi acompanhar minhas amigas que lá estudam e assistir uma aula do espetacular historiador François Hartog.
Mais não digo, pis isso nem deve ser de interesse geral.
Au chegar na EHESS uma surpresa: a entrada que conhecida estava fechada e após passar por uma porta estreita precisei mostrar minha bolsa. Paris pós ataques terroristas.... mas tudo bem, estudei na École e estava feliz de lá estar.
Após a aula, fui caminhando -- e é uma linda distância -- até a Fondation Cartier pra ver uma exposição de um fotógrafo que não conhecia. Adoro ver artistas desconhecidos, ouvis música nova. Gostar ou não é outra conversa, mas meio que me obrigo.
Se gostei? Adorei. Ele é colombiano e desde que conheci o país meu interesse só aumenta.
De novo a ruína, a cidade abandonada, a violência. Ou era eu que não parava de pensar no Kiefer.
Depois, enrolamos um pouco num café qualquer para esperar a hora do jantar. Voltar pra casa diária preguiça.
E fomos jantar no incrível Le Robe et le Palais, pertinho to teatro Chatelet.
Experiência gastronômica das boas, com um detalhe: não havia carta de vinhos. Isso, o garçom ia propondo algo que harmonizasse com os pedidos.
E fomos bebendo.
Um certo medo na hora da conta, mas nada demais para quem mora na exorbitante São Paulo.
E chega, pois saí de casa às 8hs e voltei quase meia-noite.
Nas imagens, a adega que vislumbrei a caminho do banheiro, a expo do fotógrafo incrível, minha alegria na exposição e o cartaz dionisíaco que vi no restô.















Primeiro dia em Paris

Era uma segunda-feira mormacenta, com muitos museus fechados.
Fui correndo pro Beaubourg, ou Centre Pompidou. um dos meus lugares preferidos no mundo, sempre que vou a Paris quando vejo estou lá no primeiro dia.
Tinha uma exposição do Alselm Kieffer, que eu nem conhecia tão bem.
Fiquei de queixi caído com as obras, sua referências a ruínas, à guerra, destruição. Paisagens terríveis, oníricas, imaginárias.
Como estava hospedada perto da Place Saint Michel fui e voltei caminhando, sentindo o ar frio da cidade, lembrando percursos conhecidos.
Nem deu pra ter jet lag.
mas era primeiro dia e jantei em casa.
Adoro cozinhar em Paris, adoro os supermercados e feiras da cidade.

MAs ao sair do museu caminhei um pouco pelo Marais até encontrar minha amiga que pesquisava diligentemente numa das mais lindas bibliotecas da cidade. Como ela é do bem, teve a paciência de me acompanhar até minha loja querida, a COS (rue des Rosiers), que eu chamo brincando de HM de adulto. Claro que comprei um vestido lindo e claro que fui pra casa feliz.

Abaixo, a vista da janela lateral do quarto de dormir e um pouco do acervo do museu maravilhoso. Sonia Delaunay, Jovem finlandesa, quadro de 1927. Uma das primeiras cadeiras Antony do Jean Prouvé (tenho uma chez moi).
E a vista do algo do museu, um ponto sempre a se considerar, mesmo num dia cinzento.