sábado, 26 de fevereiro de 2011

Agência de viagens em Hanoi

Os amigos às vezes me perguntam sobre uma agência de viagens que leve ao VIetnã. Não fui assim, então fica difícil. Uma amiga viajeira acha que o melhor é ir pra Paris ou Londres e de lá comprar um pacote. Eu fui direto pra Hanoi pela Air France e uma vez lá contatei pequenas coisas. Já tinha a indicação da agência Handspan.
http://www.handspan.com/
Essa agência tem atendentes gentis que de fato falam inglês e fica no fundo de um café com o mesmo nome na Pho Ma Mai, uma das ruas mais legais do centro de Hanoi, quase em frente a uma casa "histórica" recuperada. Nesse café tem um pão que faz lembrar que a antiga Indochina era uma colônia francersa, um excelente café vietnammita, em xícaras magras e longas, os melhores rolinhos vegetarianos do mundo, uma doceria, iogurtes...nossa! E massagistas. Uma maravilha.
Uma vez lá, o passeio de um ou dois dias, imperdível é Halong Bay. Quem assistiu o filme Indochina, de 1992, deve lembrar de uma baía enorme onde a filha da Catherine Deneuve se oculta, e que acreditavam que uma vez ali ninguém a encontraria.Quem não viu, vale a pena:
http://www.youtube.com/watch?v=g1RrY4iIhIY
Pena que no trailer aparece um tiquinho só desse lugar.
Depois eu volto para um post só de Halong Bay.
Por enquanto, é quase um agradecimento à agência. Terminado o congresso eu estava esgotada e queria passear mais um pouco. A moça disse: você está cansada, vá para um lugar só.
E eu fui pra Hoi An. Depois eu conto e coloco as fotos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Site muito bom

Enquanto eu tento encontrar tempo pra contar o resto da viagem pro Vietnã, fica a dica de um site muito legal sobre uma modalidade bem particular de turismo:

http://www.vitruvius.com.br/revistas/browse/arquiteturismo

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Museus de Hanoi

Em qualquer cidade que eu visite, vou ao mercado, ou aos mercados. O de Hanoi é péssimo, cheio de produtos ocidentalizados, umas coisas que parecem aji-ho-moto e muito sujo. Fui embora com medo de passar pelo susto de ver um açougue de cachorro, mas depois descobri que estes são lugares muito especializados.
Disposta a gostar do Vietnã, tomei um taxi e pedi pra ir pro Museu de Etnologia, algo que também sempre visito em qualquer lugar que tenha um. O motorista se perdeu um pouco... mas chegou.
Uma pequena maravilha. O museu foi meio que formatado pelo pessoal do Musée de l'Homme de Paris e isso é perceptível no jeito despojado de se expor as peças, algo que passa milhas de um modo estetizado que, temo, a partir do museu Quai Branly venha a se tornar clichê.
Logo ao entrar, algo inusitado. Uma jovem se aproximou perguntando se podia me mostrar o museu, pois precisava de alguém para praticar o inglês. Aceitei, claro e descobri que ela era estudante de antropologia. Tive assim, uma guia adorável, cujo nome esqueci, mas lembro que significava "nuvem no céu". E com ela fui apresentada aos diversos grupos étnicos que compõem o Vietnã e também um pouco do Laos pois, claro, as fornteiras desses grupos pouco têm a ver com as divisões politicas feitas posteriormente. E os grupos, claro, ali representados por sua cultura material. Pontos altos: uma bicileta carregando cestos e uma casa tradicional, cujo corrimão não pude tocar por ser mulher. Sim, as mulheres não podiam tocar partes da casa que pudessem lembrar falos, segundo minha guia, que me mostrou emocionada, fotos de casamentos tradicionais, dizendo que este é o dia mais feliz de uma mulher. Soube depois, lendo algum guia ou reportagem, que os vietnamitas são loucos por casamento e sentem profunda pena dos solteiros.
E a lojinha do museu? Se por arrependimento eu pudesse me teletransportar, voltaria pra comprar umas coisinhas... nesse segundo dia eu ainda não tinha entendido totalmente a moeda local e comprei uns poucos presentes, mas deveria ter comprado muito mais. As peças são belas e baratas: colares, lenços de seda crua, objetos para a casa.
Feliz, peguei um taxi-moto e pedi que ele me deixasse no Templo da Literatura.Creio que o rapaz só ouviu o "templo", pois me deixou numa igreja neogótica. Bom, ir pro oriente pra ver uma igraja neogótica...mas visitei a dita. Comi (eba!)algo maravilhoso por ali mesmo, e munida de mapa e coragem, caminhei um pouco mais de dois quilometros para encontrar o Templo da Literatura. Maravilhoso, a primeira universidade do país há uns bons quinhentos anos, com os diplomas gravados em pedra, além de ser um jardim silencioso e repousante, um verdadeiro oasis na caótica Hanoi. Dava vontade de nunca mais sair dali.
Na saída, o Museu de Belas-Artes, que fica em frente. Muito interessante, pois por conta do museu visitado de manhã eu reconhecia algumas peças e suas etnias. Mas a parte literalmente das tais belas-artes foi a que me suspreendeu.Eu não sabia quem eram aqueles pintores, mal podia ler seus nomes e não tinha a menor idéia de sua recepção e classificação em escolas. Então era sem anestesia: ou gosta ou não gosta. Nunca tinha entendido bem a premissa de Lina Bo Bardi ao colocar os nomes dos pintores atrás dos quadros nos cavaletes do antigo MASP: "Deves gostar, é um Rembrandt" era tudo que ela dizia querer evitar. O visitante devia decidir gostar ou não antes de saber mais sobre o quadro, dizia.
Pois é, e eu gostei muito de alguns. Fiquei quase hipnotizada por uma menina sentada numa cadeira Thonet, tanto que comprei um poster que hoje embeleza meu bagunçado escritório. Foi depois que descobri que seu autos, Tra Van Can foi um importante pitor acadêmico indochinês -- e eu, dona Lina, que nem gosto de pintura acadêmica!
Exausta, passei no meu café preferido na rua Pho Ma Mai para restabelecer as forças. A partir de então, dispensei o café meia-boca do meu hotel mixo e passei a começar meu dia com boa comida no café Handspan, anexo a uma agência de viagens da qual falarei depois.
Algo do Vietnã começava a entrar na pele, para nunca mais sair.
Para informação mais objetiva:
http://www.vme.org.vn/vietnam/index.asp
http://vnfineartsmuseum.org.vn/English/gioithieu.asp


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mandada fui ao Vietnã

Claude Lévi-Strauss, em alguma página iluminada do seu Tristes Trópicos escreveu que uma viagem nos desloca em cinco dimensões: as três do espaço, o tempo e a de classe social. Na França o professor de liceu era pobre, aqui parecia rico. Perdoem-me pela citação de memória, seu texto é infinitamente melhor, mas é o que me ocorre quando penso que já fui ao Vietnã.
Nunca, antes ou depois eu entendi de modo tão incisivo a experiência do deslocamento. Não porque meus dólares ali virassem milhares de notas da moeda local, mas porque pela primeira vez em me senti totalmente estrangeira.
Devo ser descendente de camaleão, pois em qualquer ponto do ocidente para onde eu vá, acabo me mesclando aos locais. Já fui parada pra pedir informação em Nova York, em Roma, em Paris... e o pior é que muitas vezes, malgrado meu uso claudicante do idioma, dei a rota correta.
Nunca me mesclaria no Vietnã, em primeiro lugar por ser muito alta. "Oh, my darling you are so tall", ouvi a troco de nada numa rua de Hanoi. Mas o estranhamento vai além de uma característica física. É outro lugar mesmo, nada a ver conosco, nada ali é óbvio e não é para os fracos: requer um certo empenho para se começar a gostar. Mas no que gostou, tá roubado, acho que é pra sempre.
Cheguei em Hanoi num final de tarde depois de uma escala longa em Paris (adorável, pois passei na cidade-luz com uma amiga) em um total de 26 horas de avião em classe econômica (algo melhorou depois que comecei a usar meias compressoras nessas ocasiões). Eu achava que não sofria de jetlag, mas dessa vez ele bateu com força. Desmaiei. Ao acordar, louca por um banho, havia um inseto inominável no banheiro. Chamei alguém do hotel pra matar e me dei conta de que eles, budistas, não matavam, pois aquele bicho horroroso era uma "criatura de Deus, como eu e você". Meus conhecidos simpatizantes do budismo acham que é só vocalizar OM e pregar um desapego de butique...
Bom, mudei de quarto, o inseto não foi atrás de mim e me preparei pra começar a conhecer Hanoi. O primeiro dia foi péssimo. Ainda sob o efeito do cansaço, comecei a explorar o centro. Meu hotel ficava perto da porta da cidade e eu fantasiei que era um lugar lindo e não era. O guia The Lonely Planet descrevia uma área onde uma rua vendia sapatos, a outra espelhos e... sim, sapatos made in China, espelhos de banheiiro industrializados, e eu a me perguntar o que fazia ali se as ruas comerciais de São Paulo (25 de março e outras) eram tão pertinho...
Mas chegou a hora do almoço e tudo começou a mudar. No Vietnã se come muito bem por muito pouco. Comecei por um restaurante indicado na ótima página de turismo no New York Times online e fui parar num lugar lindo, uma casa dos anos 1920, onde entendi o que a colonização francesa fez quando se uniu a uma cozinha oriental tradicional. Um café bom - e o do Vietnã é ótimo - tem o poder de mudar um pouco minha perspectiva das coisas e continuei a explorar o centro, sem mudar muito de opinião.
Atravessar a rua era a grande aventura da viagem. Eles desenvolveram uma técnica corporal de nunca parar. O pedestre vai atravessando enquanto carros, muitas motos tipo lambreta/vespa, bicicletas e tuctuc (as bicis que levam passageiros) vão negociando seu lugar no espaço da rua e no fim tudo dá certo. Dizem que quando não dá, dá muito errado, mas não vi nenhum acidente.
Acho que todo vietnamita tem uma moto dessas e elas tomam conta de tudo, inclusive das calçadas. Mas são o melhor meio de transporte. É só combinar com o motorista cde um mototaxi o lugar e o valor, colocar o capacete e entregar. O motorista vai conversando num inglês bem mais ou menos enquanto desvia de outras motos, bicicletas, pedestres... eu sempre descia meio tonta.
De noite, depois de uma posta de atum, eu já me preparava para o dia seguinte, para começar a gostar.
E gostei, mas aí comecei a gostar pra valer.


Nas imagens, o tal restaurante que me fez mudar de idéia e a rua que se tornou a minha preferida: Pho Ma Mai. Preferida, entre outras coisas, por ter um café imperdível.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Bogotá, chevere!

Logo que voltei de férias, postei no Facebook uma foto de Bogotá, tirada de um miradouro nos Andes, no caminho para a Catedral do Sal, que fui visitar menos por razões religiosas do que por patrimoniais - afinal, era uma mina de sal.




Alguns amigos reagiram mal à foto: nossa, que cidade grande! De fato, tenho amigos que não gostam de cidade grande e portanto custam a imaginar por que alguém visita uma nas férias. Não tenho tais reservas, pois paulistana nascida e criada, tenho a cultura do grande centro e seus problemas, mas também seus ganhos. Paris, onde passei meses, Londres, Nova York, Buenos Aires e Hanoi são grandes cidades, que me brindaram com boas surpresas. Bogotá também. Bogotá é muito bacana.
Bacana em espanhol da Colômbia é "chevere". E é a palavra que se escuta o tempo todo. "Você esteve em Cartagena? Que chevere!", "Vai ficar cinco dias conosco? Que chevere!"E depois de uma estadia de cinco dias, a palavra chave é mesmo esta: chevere.
Com quase 7 milhões de habitantes, é mesmo um grande centro. E como turista ocasional nessa cidade extensa e populosa, é claro que tive uma visão restrita aos pontos turísticos. Fiquei (e já escrevei sobre isso num post anterior) na Candelária, no coração do centro histórico. Centro histórico em nossas grandes cidades costuma remeter a uma pequena área com imóveis antigos, uma catedral e com sorte algum edifício institucional, mas o casco viejo de Bogotá é bastante extenso e relativamente bem preservado. Não contei quantas ruas, caminhei com um mapa precário, mas é um grande centro histórico, e íntegro como tal.
Ali funcionam várias universidades, com campi espalhados por edifícios repulblicanos e casarões. Estive lá em janeiro, mas dá para imaginar como deve ser legal - oops, chevere - durante o período letivo, cheio de jovens em suas ruas, restaurantes baratos (teve um dia em que comi, e bem, por 8 reais) e cafés.
E o café colombiano é algo pra se respeitar.
O que há de bom para se fazer nessa Candelária? Andar, flanar, se perder. Tomar um café e decidir qual museu visitar. São vários na região da Candelária, tudo a pé.
O Museu do Ouro é imperdível. 35 mil peças, pecinhas e peçonas de ouro evidenciam o quanto a colonização da América se baseou no vil metal, mas não só, pois os habitantes originais já utilizavam ouro em várias ligas, com várias colorações para objetos rituais. Chega a ser enebriante, há salas intereativas muito espertas e tanto a museologia como a arquitetura são bem contemporâneas. E tem a lojinha, com réplicas de peças muito bem feitas, uma verdadeira perdição.
O Museu Botero é muito interessante, especialmente para quem aprecia esse pintor, quase tão cultuado na Colômbia quanto Frida Kahlo no México. A diferença é que Botero suscita em mim mais curiosidade do que interesse genuíno. Ainda assim, é interessante, especialmente pela coleção que o pintor angariou em sua estadia na Europa. É quase um pequeno e preciso mostruário do século XX: Picasso, impressionistas, uma escultura de Dali, obras que terminam por revelar um pouco das escolhas estéticas de Botero, o que me levou um pouco a reconsiderar minha visão.
No mesmo conjunto de museus há um de arte moderna onde pude ver a melhor mostra dedicada ao Man Ray da minha vida.
Outro museu surpreendente foi o da Independência. Quase fugi dele, mas fui salva por uns compromissos marcados justamente ali, e pude me deliciar com uma museologia esperta, renovada, que apresenta um objeto crucial para a história colombiana - um floreiro - em todas suas apreensões, por diversos setores da sociedade... atual! Sim, a Independência é também pretexto para se falar de politica, cidadania, raça e economia na Colômbia de ontem e de hoje. Tudo de modo a um só tempo sério e lúdico - e mais do que tudo, arejado.
Arejada, séria, lúdica, surpreendente e moderna: nem a altitude e seus males, nem a chuva torrencial que caiu todo final de tarde atrapalhou minha primeira exploração dessa grande cidade chevere. Preciso voltar para conferir o resto, o que mais está guardado em suas calles e carreras. Até porque o café que trouxe de lá esta quase no fim.
Como observação final: foi muito bom ter a ajuda de um motorista, o Boris, indicado pelo hotel. Além de grande, a cidade está em obras para a instalação de um transporte moderno, o Transmilenium, inspirado no modelo curitibano. E enquanto o Transmilenium não se completa, e com as dificuldades de se conseguir um taxi, o Boris foi uma grande ajuda.