domingo, 13 de fevereiro de 2011

Museus de Hanoi

Em qualquer cidade que eu visite, vou ao mercado, ou aos mercados. O de Hanoi é péssimo, cheio de produtos ocidentalizados, umas coisas que parecem aji-ho-moto e muito sujo. Fui embora com medo de passar pelo susto de ver um açougue de cachorro, mas depois descobri que estes são lugares muito especializados.
Disposta a gostar do Vietnã, tomei um taxi e pedi pra ir pro Museu de Etnologia, algo que também sempre visito em qualquer lugar que tenha um. O motorista se perdeu um pouco... mas chegou.
Uma pequena maravilha. O museu foi meio que formatado pelo pessoal do Musée de l'Homme de Paris e isso é perceptível no jeito despojado de se expor as peças, algo que passa milhas de um modo estetizado que, temo, a partir do museu Quai Branly venha a se tornar clichê.
Logo ao entrar, algo inusitado. Uma jovem se aproximou perguntando se podia me mostrar o museu, pois precisava de alguém para praticar o inglês. Aceitei, claro e descobri que ela era estudante de antropologia. Tive assim, uma guia adorável, cujo nome esqueci, mas lembro que significava "nuvem no céu". E com ela fui apresentada aos diversos grupos étnicos que compõem o Vietnã e também um pouco do Laos pois, claro, as fornteiras desses grupos pouco têm a ver com as divisões politicas feitas posteriormente. E os grupos, claro, ali representados por sua cultura material. Pontos altos: uma bicileta carregando cestos e uma casa tradicional, cujo corrimão não pude tocar por ser mulher. Sim, as mulheres não podiam tocar partes da casa que pudessem lembrar falos, segundo minha guia, que me mostrou emocionada, fotos de casamentos tradicionais, dizendo que este é o dia mais feliz de uma mulher. Soube depois, lendo algum guia ou reportagem, que os vietnamitas são loucos por casamento e sentem profunda pena dos solteiros.
E a lojinha do museu? Se por arrependimento eu pudesse me teletransportar, voltaria pra comprar umas coisinhas... nesse segundo dia eu ainda não tinha entendido totalmente a moeda local e comprei uns poucos presentes, mas deveria ter comprado muito mais. As peças são belas e baratas: colares, lenços de seda crua, objetos para a casa.
Feliz, peguei um taxi-moto e pedi que ele me deixasse no Templo da Literatura.Creio que o rapaz só ouviu o "templo", pois me deixou numa igreja neogótica. Bom, ir pro oriente pra ver uma igraja neogótica...mas visitei a dita. Comi (eba!)algo maravilhoso por ali mesmo, e munida de mapa e coragem, caminhei um pouco mais de dois quilometros para encontrar o Templo da Literatura. Maravilhoso, a primeira universidade do país há uns bons quinhentos anos, com os diplomas gravados em pedra, além de ser um jardim silencioso e repousante, um verdadeiro oasis na caótica Hanoi. Dava vontade de nunca mais sair dali.
Na saída, o Museu de Belas-Artes, que fica em frente. Muito interessante, pois por conta do museu visitado de manhã eu reconhecia algumas peças e suas etnias. Mas a parte literalmente das tais belas-artes foi a que me suspreendeu.Eu não sabia quem eram aqueles pintores, mal podia ler seus nomes e não tinha a menor idéia de sua recepção e classificação em escolas. Então era sem anestesia: ou gosta ou não gosta. Nunca tinha entendido bem a premissa de Lina Bo Bardi ao colocar os nomes dos pintores atrás dos quadros nos cavaletes do antigo MASP: "Deves gostar, é um Rembrandt" era tudo que ela dizia querer evitar. O visitante devia decidir gostar ou não antes de saber mais sobre o quadro, dizia.
Pois é, e eu gostei muito de alguns. Fiquei quase hipnotizada por uma menina sentada numa cadeira Thonet, tanto que comprei um poster que hoje embeleza meu bagunçado escritório. Foi depois que descobri que seu autos, Tra Van Can foi um importante pitor acadêmico indochinês -- e eu, dona Lina, que nem gosto de pintura acadêmica!
Exausta, passei no meu café preferido na rua Pho Ma Mai para restabelecer as forças. A partir de então, dispensei o café meia-boca do meu hotel mixo e passei a começar meu dia com boa comida no café Handspan, anexo a uma agência de viagens da qual falarei depois.
Algo do Vietnã começava a entrar na pele, para nunca mais sair.
Para informação mais objetiva:
http://www.vme.org.vn/vietnam/index.asp
http://vnfineartsmuseum.org.vn/English/gioithieu.asp


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