domingo, 6 de fevereiro de 2011

Bogotá, chevere!

Logo que voltei de férias, postei no Facebook uma foto de Bogotá, tirada de um miradouro nos Andes, no caminho para a Catedral do Sal, que fui visitar menos por razões religiosas do que por patrimoniais - afinal, era uma mina de sal.




Alguns amigos reagiram mal à foto: nossa, que cidade grande! De fato, tenho amigos que não gostam de cidade grande e portanto custam a imaginar por que alguém visita uma nas férias. Não tenho tais reservas, pois paulistana nascida e criada, tenho a cultura do grande centro e seus problemas, mas também seus ganhos. Paris, onde passei meses, Londres, Nova York, Buenos Aires e Hanoi são grandes cidades, que me brindaram com boas surpresas. Bogotá também. Bogotá é muito bacana.
Bacana em espanhol da Colômbia é "chevere". E é a palavra que se escuta o tempo todo. "Você esteve em Cartagena? Que chevere!", "Vai ficar cinco dias conosco? Que chevere!"E depois de uma estadia de cinco dias, a palavra chave é mesmo esta: chevere.
Com quase 7 milhões de habitantes, é mesmo um grande centro. E como turista ocasional nessa cidade extensa e populosa, é claro que tive uma visão restrita aos pontos turísticos. Fiquei (e já escrevei sobre isso num post anterior) na Candelária, no coração do centro histórico. Centro histórico em nossas grandes cidades costuma remeter a uma pequena área com imóveis antigos, uma catedral e com sorte algum edifício institucional, mas o casco viejo de Bogotá é bastante extenso e relativamente bem preservado. Não contei quantas ruas, caminhei com um mapa precário, mas é um grande centro histórico, e íntegro como tal.
Ali funcionam várias universidades, com campi espalhados por edifícios repulblicanos e casarões. Estive lá em janeiro, mas dá para imaginar como deve ser legal - oops, chevere - durante o período letivo, cheio de jovens em suas ruas, restaurantes baratos (teve um dia em que comi, e bem, por 8 reais) e cafés.
E o café colombiano é algo pra se respeitar.
O que há de bom para se fazer nessa Candelária? Andar, flanar, se perder. Tomar um café e decidir qual museu visitar. São vários na região da Candelária, tudo a pé.
O Museu do Ouro é imperdível. 35 mil peças, pecinhas e peçonas de ouro evidenciam o quanto a colonização da América se baseou no vil metal, mas não só, pois os habitantes originais já utilizavam ouro em várias ligas, com várias colorações para objetos rituais. Chega a ser enebriante, há salas intereativas muito espertas e tanto a museologia como a arquitetura são bem contemporâneas. E tem a lojinha, com réplicas de peças muito bem feitas, uma verdadeira perdição.
O Museu Botero é muito interessante, especialmente para quem aprecia esse pintor, quase tão cultuado na Colômbia quanto Frida Kahlo no México. A diferença é que Botero suscita em mim mais curiosidade do que interesse genuíno. Ainda assim, é interessante, especialmente pela coleção que o pintor angariou em sua estadia na Europa. É quase um pequeno e preciso mostruário do século XX: Picasso, impressionistas, uma escultura de Dali, obras que terminam por revelar um pouco das escolhas estéticas de Botero, o que me levou um pouco a reconsiderar minha visão.
No mesmo conjunto de museus há um de arte moderna onde pude ver a melhor mostra dedicada ao Man Ray da minha vida.
Outro museu surpreendente foi o da Independência. Quase fugi dele, mas fui salva por uns compromissos marcados justamente ali, e pude me deliciar com uma museologia esperta, renovada, que apresenta um objeto crucial para a história colombiana - um floreiro - em todas suas apreensões, por diversos setores da sociedade... atual! Sim, a Independência é também pretexto para se falar de politica, cidadania, raça e economia na Colômbia de ontem e de hoje. Tudo de modo a um só tempo sério e lúdico - e mais do que tudo, arejado.
Arejada, séria, lúdica, surpreendente e moderna: nem a altitude e seus males, nem a chuva torrencial que caiu todo final de tarde atrapalhou minha primeira exploração dessa grande cidade chevere. Preciso voltar para conferir o resto, o que mais está guardado em suas calles e carreras. Até porque o café que trouxe de lá esta quase no fim.
Como observação final: foi muito bom ter a ajuda de um motorista, o Boris, indicado pelo hotel. Além de grande, a cidade está em obras para a instalação de um transporte moderno, o Transmilenium, inspirado no modelo curitibano. E enquanto o Transmilenium não se completa, e com as dificuldades de se conseguir um taxi, o Boris foi uma grande ajuda.


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