terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Roberto Matta no La Moneda

Não se pode passar pelo México sem um périplo Diego-Frida, tampouco pela Colômbia sem olhar o Botero. Como será para o Brasil? Eu diria sempre Tarsila, mas diversos amigos discordariam, diriam que sou embriagada pelo modernismo etc. Pode ser. Alguns dirão Portinari....
Ainda irei pra Montevideo só pra ver as obras do Torres-Garcia, que aliás acabo de ver na Pinacoteca em São Paulo mesmo.
Será que essa idéia de que a um país corresponde um pintor vale mesmo para a América Latina? Ou é o nosso desconhecimento dos menos laureados? Pode ser, pois seria ridículo, por exemplo, dizer que a França é a terra de Manet, Monet ou David.


Isso tudo pra dizer que gostei de ter visto uma linda mostra do Roberto Matta no Centro Cultural Palácio de La Moneda. Matta, se não tem a aura popular e pop de uma Frida ou um Botero - acho que o personagem que faz isso no Chile não é um pintor e sim um poeta, Pablo Neruda -- é um orgulho nacional, o artista que obteve reconhecimento na Europa.
O bacana para quem como eu pouco o conhecia foi ver juntas obras espalhadas por coleções particulares e por diversos museus como Tate de Londres, Centro de Arte Reina Sofía e Thyssen-Bornemisza de Madri, Rufino Tamayo do México, Nacional de Belas Artes da Venezuel,; Herbert F. Johnson e Lucid Art Foundation dos Estados Unidos, Stedelijk Museum da Holanda e Casa de las Américas de La Habana.
O nome da exposição, Matta 11-11-11 remete à data de nascimento do pintor e confere um quê de número mágico, cabalístico, surreal.
Roberto Antonio Sebastian Matta Echaurren, para muitos o último dos surrealistas, foi para Paris nos anos 1930, em meio a turbulências políticas em seu país - como se a Europa estivesse bem calminha - e uma vez lá colaborou com Le Corbusier, aproximou-se do consul chileno na Espanha, o poeta Neruda e com ele, de Garcia-Lorca. Daí pra André Breton, Salvador Dali e companhia limitada foi um passo e ele, pelo que consegui apreender, viveu aqueles anos retratados por James Clifford em seu delicioso texto sobre o "surrealismo etnográfico".
Décadas mais tarde, como tantos outros, apoiou Salvador Allende.
Algo de profundamente chileno, de sua passagem longa pela Europa, de um período novaiorquino,  mais uma pegada política libertária e maravilhosamente erótica: tudo isso está presente nas telas gigantescas, nos desenhos e esculturas expostos no la Moneda.
No dia em que cheguei em Sangiago o gramado do palácio ainda estava inerditado, represália às manifestações mais do que corretas dos jovens e estudantes. Tempos bicudos, vivemos aqui e lá, hein? Ainda bem que quando voltei para a exposição as grades já tinham disdo removidas, ou seria um contraste insuportável entre a paralisia no lado de fora e a energia que, do lado de dentro, as obras emanavam.
Interessante foi, depois de passar pelo Palácio de La Moneda, visitar o Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos. Mas esse fica pra depois.

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