domingo, 9 de setembro de 2012

A casa do homem

Tenho uma irmã piscanalista e outra simpatizante. Mesmo não tendo frequentado divãs, o pensamento do freud é uma referência na vida. Talvez  a crença que restou para uma descrente.
Bem antes do meu embarque pra Viena já fui indagada se iria até a Bergasse. Berg o que, não tinha ainda me ligado nesse assunto. Mas é claro que era um dos programas imperdíveis, ainda mais depois de ter desgostado do filme do Cronemberg sobre Freud e Jung. Já conhecia a casa em Hampstead, Londres, e esta me esperava.
Na minha primeira tentativa atrasei tanto que ao chegar a casa estava fechando. O que Dr. Freud diria de quem se atrasou para o primeiro encontro? Muito, suponho. Mas depois de olhar tantas pinturas do Gustav Klimt era impossível não me render àquele clima de quando se discutia artes (no plural), política e sexualidade tudo num pacote só. Impossível não pensar em Freud ao olhar as frisas de Beethoven no edifício da Secessão. Assim sendo, voltei, desta feita com tempo.
É uma casa em um bairro aparazível perto do centro, de um braço do Danúbio e da universidade. Em meio a tantos predinhos baixos lá estava a casa do homem.
Adoro casas-museu. Algumas são muito fetichistas, capazes de guardar até papel de bala, mas esta não. É um templo para os estudiosos da piscanálise. Nem sei o que era mais interessante; os objetos e móveis ou os observadores. Alguns anotavam tudo, letra a letra. Para quem conhece bem deve ser um achado. A escrivaninha, o divã - claro! - as coleções de imageria africana.... as cartas, os escritos, os livros. Fotos e mais fotos. Só não pirei porque não leio bem em alemão, então fiz uma visita relativamente rápida, movida a curiosidade e admiração, mas não necessariamente a uma possibilidade de reflexão mais profunda. Contudo, em alguns momentos tinha a impressão de que estava diante da face pública do criador da psicanálise e em outros, de seus segredos, de seu inconsciente. Será que ele um dia imaginou seus objetos expostos? O que o encantou/instigou em cada um deles? Por que um certo afã colecionador? O que papéis e quinquilharia permitem ver?
Ao final, para deleite dos ignorantes, um filminho narrado por Anna Freud. Uma ode de admiração da filha ao pai, da psicanalista ao fundador.
Saí de lá e Viena me esperava com um sol luminoso. Sentei pra tomar um suco numa portinha qualquer, pensando que tinha feito uma breve visita a um cara que, valente e bizarro, desnaturalizou um tanto a nossa vida, nossos temores e impasses. Sempre penso que devemos uma a alguns personagens. Freud sem dúvida é um deles. O Aperol Spritzen daquele fim de tarde foi dedicado a ele.











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