domingo, 17 de outubro de 2010

Viajar com quem?

Há alguns anos em algum café da vida escutei um relato interessante e emocionante de um amigo que viajara pelo sertão nordestino, por Canudos, território inóspito e inesperado. Contou das estradas horríveis que enfrentou em um Uno Mille alugado, das pessoas com que conversou e lá pelas tantas perguntei: "Você estava sozinho?". A resposta foi maravilhosa: "Não, estava com Guimarães, Graciliano, Euclides".
Viajar tem isso: muitas vezes viajamos no texto, no cinema, na canção e a viagem propriamente dita é um re-conhecimento.
Há umas três décadas fiz uma viagem definidora para Diamantina, de carro, escutando Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes pela Serra do Cipó. Ao chegar, fui direto tirar uma foto da plaquinha onde se lia "Beco do Mota". Hoje, se voltasse (o que não seria uma má idéia), iria correndo atrás dos lugares aquarelados pelo arquiteto Lucio Costa em uma viagem também para ele definidora de muitas escolhas profissionais.
Isso tudo me vem à cabeça numa manhã de domingo enquanto arrumo uma mochila para uma viagem bate-pronto para Ouro Preto. Uma palestra e volto. Vou sozinha? Mais ou menos. Vou com Mário de Andrade, Osvald, Tarsila e Blaise Cendrars, que para lá foram nos anos 1920.
Nesses anos, Osvald escreveu: “Ide a São João Del Rei / De trem / Como os paulistas foram / A pé de ferro”.
Vou pra Ouro Preto de avião e carro, como os modernistas foram um dia para reescrever parte do seu destino, do destino da cidade e em alguma medida do meu.
Ouro Preto foi tombada em 1933. Em 1980 passou a fazer parte do chamado Patrimônio da Humanidade. Trinta anos depois, celebra esse feito. É com alegria que vou fazer parte dessa festa.

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