domingo, 23 de janeiro de 2011

O mar azul de Cartagena

Quando o avião avisou que estava em procedimento de pouso eu, que estava na janela, tratei de acordar e abrir bem os olhos. Valeu a pena, pois vislumbrei uma localizade recortada, um porto em meio a um azul sem fim. Foi minha chegada em Cartagena, prometendo desde o início.
Confesso que escolhi o hotel por sua proximidade da praia (Google Maps informa, mas nem tanto) e antes de partir já tinham me avisado que a praia da cidade era uma droga. Mais do que isso: além de ruim estava com o mar ressaquento, rabioso. Tentei conhecer outras praias da costa, mas brasileiro é bicho chato nesse quesito. Cheguei a uma praia de areia cinzenta, enorme, sem graça nenhuma, dei meia volta e voltei.
Ou seja, o negócio mesmo era encarar o mar aberto e ir pras ilhas. E para tanto temos que encarar os barcos.
Movimento dos barcos... a canção do Macalé ecoou muito nesses dias.
Tudo começa com a chegada ao porto. Mal o viajante coloca os pés nas proximidades, e é atacado por um enxame de intermediários querendo vender algumas horas no paraíso.
Pisei firme e fui direto aos guichês, mas o panorama não muda muito. É preciso negociar tudo: o trajeto, o preço, os horários. Depois disso paga-se uma taxa portuária, por um porto sem qualquer informação do que fazer, para então proceder ao embarque. Só que antes disso, do lado de fora eu já tinha deixado claro que não pretendia ir a nenhum show de golfinhos (como disse no post anterior, Cartagena tem um coté Miami). Ao embarcar, advinha! O barco queria ir ao aquário com golfinhos etc. Ou seja, descobri e ouvi literalmente de um barqueiro que o que se combina do lado de fora nem sempre corresponde ao que ocorre do lado de dentro do porto.
Ok, o barqueiro é um mero trabalhador, as agências são malandras e o dia está lindo. Demora-se tanto por que? Porque é preciso que a lancha parta em sua capacidade máxima. E assim vamos, todos com coletinho salva-vidas, o pequeno barco em plena lotação, muita emoção por alguns milhares de pesos colombianos. E haja filtro solar no marzão aberto. E na volta a adrenalina é ainda maior porque a maré está nervosa, as lanchas dão aqueles pulos dignos de filme.
Imagino que metade da zorra se deva à alta temporada.
Quer reclamar? Ali pude lembrar do dito mexicano (segundo o Nestor Canclini, um equivalente ao brasileiro "você sabe com quem está falando?") que reza: "Se te enojas, pierde". Em algum momento uma turista reclamou de algo e a lancha voou pelas ondas, desafiando a gravidade, como a lembrar quem é que manda ali -- ao menos naquela circunstância e naquele momento.
Por que, com todos esses dissabores, eu estava de novo no porto no dia seguinte? Porque isso tudo liga a encantadora Cartagena ao mar mais azul que já vi. É pra parar de cantarolar Macalé e começar a homenagear Lou Reed -- What a perfect day!
Passei um dia na Isla de Piratas, super turistica, minúscula, onde se pode comer uma lagosta olhando a imensidão turquesa. E a Isla Baru, cuja Playa Blanca é, sem dúvida, uma das mais belas que já tive o privilégio de ver. A areia é branca, o mar tem todos os tons que o azul tem o direito de ter, e a temperatura é tépida, perfeita. Não conheço todos os mares que desejo, mas já peguei praia no Mediterrâneo, em diversos pontos do Atlântico, alguns do Pacífico e no mar do Sul da China. E o Caribe dá um banho, literalmente, em todos eles. E mais não escrevo só porque as palavras não dão conta da experiência.
Claro que o tempo todo tem gente oferecendo algo: massagem, cerveja, manga, camarão, melancia... ignorá-los é quase um exercício budista, mas o mar à frente ajuda.
Depois de um dia perfeito, vem de novo o perrengue dos barcos. Mas nada que um trago em alguma praça da linda Cartagena não cure. Se tivesse mais dias, voltaria.
Voltarei, quero dizer.



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