Algumas cidades padecem da proximidade de cidades muito interessantes, então passam meio que desapercebidas, subestimadas. Lembro que quando viajei pra Valencia, na Espanha, muitos me disseram que a cidade não tinha a menor graça. Ledo engano: Valencia tem um casco viejo pra ninguém botar defeito, uma vida de rua intensa, museus que fariam a alegria de muita cidade brasileira, mas... como competir com Madri, Barcelona, Sevilha?
Coimbra é um pouco assim. Fica entre Lisboa e Porto, duas grandes cidades. E não tem o charme passadista de Óbidos, por exemplo.
Mas é muito legal. Uma amiga diz que Coimbra não é óbvia, não se ama de cara. Tem uma geografia meio esquisita, como que partida entre altos e baixos. Mas é uma delícia se perder em suas ruelas. Acho que nunca fiz o trajeto entre a Alta e a Baixa pelas mesmas ruas. Sempre descubro um ângulo novo, uma casinha na qual não havia reparado, algo para ver.
Tem 120 mil habitantes, mas cerca de 30% desse número é composto por estudantes que ganham as ruas com suas becas pretas como bandos de pássaros. E muitas das casas na zona mais antiga são repúblicas -- há uma verdadeira cultura dessas residências compartilhadas.
A universidade, no alto, domina a colina. Entre seus feiosos edifícios do período de Salazar, que trazem mesmo as marcas de uma arquitetura fascista, temos a parte velha da mesma. A biblioteca joanina é imperdível, com suas estantes de jacarandá, pau rosa e adornos de ouro, muito ouro. Em uma viagem para lá, creio que em 2006, um colega brincou que estávamos em missão de repatriação do patrimônio brasileiro e a senhora que cuidava da biblioteca entrou em pânico -- pois é um pouco verdade que os portugueses não são muito afeitos ao duplo sentido ou às brincadeirinhas verbais.
Descendo da universidade, passa-se pela igreja da Sé, por um museu arqueológico, casinhas e mais casinhas, ruelas e mais ruelas, chega-se à baixa e com uma breve caminhada estamos no rio Mondego. Beleza de rio, de onde podemos ver o convento de Santa Clara e, infelizmente, as luzes de um centro comercial (como eles chamam os shoppings) com seus neons a perturbar uma paisagem que de resto seria perfeita.
Meus amigos que lá residem consideram a cidade limitada, um tanto conservadora. Sim, uma cidade pequena, triste sina, sempre falta algo. Mas sobra em céu azul e surpresas. Não se deve passar de Lisboa ao Porto sem saltar do comboio em Coimbra.
E mais: come-se bem por ali. Come-se bem em Portugal como um todo, e por muito pouco se comparamos com os restaurantes brasileiros. Mas em Coimbra come-se especialmente bem. Uma tasquinha melhor do que a outra.
E quem por lá estiver deve alugar um carro por um dia e passear em Cunímbriga, sítio arqueológico que data da ocupação romana. Para quem, como eu, aprecia mosaicos, é de enlouquecer.
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