terça-feira, 17 de maio de 2011

Coimbra

Algumas cidades padecem da proximidade de cidades muito interessantes, então passam meio que desapercebidas, subestimadas. Lembro que quando viajei pra Valencia, na Espanha, muitos me disseram que a cidade não tinha a menor graça. Ledo engano: Valencia tem um casco viejo pra ninguém botar defeito, uma vida de rua intensa, museus que fariam a alegria de muita cidade brasileira, mas... como competir com Madri, Barcelona, Sevilha?
Coimbra é um pouco assim. Fica entre Lisboa e Porto, duas grandes cidades. E não tem o charme passadista de Óbidos, por exemplo.
Mas é muito legal. Uma amiga diz que Coimbra não é óbvia, não se ama de cara. Tem uma geografia meio esquisita, como que partida entre altos e baixos. Mas é uma delícia se perder em suas ruelas. Acho que nunca fiz o trajeto entre a Alta e a Baixa pelas mesmas ruas. Sempre descubro um ângulo novo, uma casinha na qual não havia reparado, algo para ver.
Tem 120 mil habitantes, mas cerca de 30% desse número é composto por estudantes que ganham as ruas com suas becas pretas como bandos de pássaros. E muitas das casas na zona mais antiga são repúblicas -- há uma verdadeira cultura dessas residências compartilhadas.
A universidade, no alto, domina a colina. Entre seus feiosos edifícios do período de Salazar, que trazem mesmo as marcas de uma arquitetura fascista, temos a parte velha da mesma. A biblioteca joanina é imperdível, com suas estantes de jacarandá, pau rosa e adornos de ouro, muito ouro. Em uma viagem para lá, creio que em 2006, um colega brincou que estávamos em missão de repatriação do patrimônio brasileiro e a senhora que cuidava da biblioteca entrou em pânico -- pois é um pouco verdade que os portugueses não são muito afeitos ao duplo sentido ou às brincadeirinhas verbais.
Descendo da universidade, passa-se pela igreja da Sé, por um museu arqueológico, casinhas e mais casinhas, ruelas e mais ruelas, chega-se à baixa e com uma breve caminhada estamos no rio Mondego. Beleza de rio, de onde podemos ver o convento de Santa Clara e, infelizmente, as luzes de um centro comercial (como eles chamam os shoppings) com seus neons a perturbar uma paisagem que de resto seria perfeita.
Meus amigos que lá residem consideram a cidade limitada, um tanto conservadora. Sim, uma cidade pequena, triste sina, sempre falta algo. Mas sobra em céu azul e surpresas. Não se deve passar de Lisboa ao Porto sem saltar do comboio em Coimbra.
E mais: come-se bem por ali. Come-se bem em Portugal como um todo, e por muito pouco se comparamos com os restaurantes brasileiros. Mas em Coimbra come-se especialmente bem. Uma tasquinha melhor do que a outra.
E quem por lá estiver deve alugar um carro por um dia e passear em Cunímbriga, sítio arqueológico que data da ocupação romana. Para quem, como eu, aprecia mosaicos, é de enlouquecer.


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