Houve quem me achasse um tanto exagerada, mas tomei o TGV Paris-Marselha por causa de um edifício que eu precisava muito ver. Trata-se da Unité d'Habitation, projeto de 1947 do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Não deixa de ser um tanto bizarro, mas sei que as pessoas viajam atrás das coisas mais estranhas e para mim, por exemplo, estranho é ir para Fátima, Lourdes ou Aparecida.
A cada um sua peregrinação particular.
A viagem de trem é deliciosa, tem muita oferta para primeira classe, o que torna o trem ainda mais confortável e à medida em que fomos nos aproximando da Provence, o ar, a luz, tudo começou a mudar, deixando bem longe o gelado inverno de Paris.
Ao chegar, um taxi rápido e ao parar o motorista olhou bem e disse "pas beau". Não foi esta a minha impressão imediata: era beau, belíssimo, imponente e impressionante.
Não apenas fui a Marselha por um edifício, como foi lá que me hospedei. Explico: um andar da emblemática Unité virou hotel. Hotel Le Corbusier:
http://www.hotellecorbusier.com/
Assim, morei por um final de semana em um projeto do homem.
Arquitetura é algo para se ver com todos os sentidos. Passei horas examinando os detalhes do edifício, o teto jardim (que infelizmente para mim estava em obras de reparo), cada janela, porta, a relação dos fluxos, os corredores. Tudo exato, bem acabado, perfeito. Mas o melhor era ver que as pessoas vivem ali sem muita pose. Nas entradas e saídas o que eu via era menino com bicicleta, dona de casa com carrinho de feira (ah, as feiras francesas!), gente indo e voltando das atividades diárias.
O edifício foi projetado, festejado e criticado, tudo num mesmo pacote que era o esforço de reconstrução da França no pós-guerra. Muita gente sem moradia, um conhecimento acumulado por parte de diversos arquitetos, uma oportunidade única. Infelizmente nem todo o esforço para dar um lar aos cidadãos aconteceu nesse nível de qualidade e ousadia, e a própria idéia de cidade modernista, radiosa, saiu arranhada dessa dificuldade.
Chegar lá é muito fácil. Uma amigo arquiteto diz que é simplesmente seguir os jovens japoneses de máquina fotográfica. Dá certo. A parada de ônibus (o sistema de transporte de Marselha é uma maravilha) bem em frente se chama Le Corbusier, mas nem precisava. Os jovens saltam do ônibus e já iniciam a bateria de fotos. Um fetiche, sem dúvida.
Mas vale a pena.
Uma vez lá a partir do hotel, conheci um pouco a cidade. Em primeiro lugar, Marselha é luminosa. Emana algo muito claro e quente daquele mediterrâneo, sem dúvida. Na impossibilidade de se engarrafar aquela aura, o negócio era bater perna, caminhar às margens do porto, tomar bouillabaisse, a maravilhosa sopa de frutos do mar, e me dar conta de que toda cidade de porto é meio Bahia. Há algo que amarra Marselha ao Porto, à Salvador, à Cartagena. Uma mescla de gentes, cores e sotaques, e no caso do sul da França uma presença árabe mais visível na cidade do que, por exemplo, em Paris. Em Marselha se come aïoli e outras delícias do norte da África.
Minha volta por Barcelona foi um desastre. Trem ruim, chuva que impedia a vista do mediterrâneo e um festival de grosseria por parte da polícia espanhola na fronteira. Mas nada disso perturbou os três dias em que, entre um gole e outro entendi porque Corbu é tido como um dos grandes arquitetos do século.
Claro que nem todas as intenções foram plenamente cumpridas pelo projeto. Havia uma idéia de uma rua interior, com lojas. Muitos já assinalaram que o francês gosta de fazer feira, do mercadinho do bairro e isso ainda se observa (aliás, estou com eles). A rua interior de lojas ainda existe, mas ao lado do hotel e seu restaurante Le Ventre de l’Architecte, o comércio, pequeno, gravita em torno do personagem Le Corbusier: livraria de arquitetura, guias de viagem, loja de luminárias modernas vintage.
E nada disso parece incomodar os moradores que convivem, sem nenhum esquema especial, com a curiosidade que sua casa desperta.
Porque navegar é sempre preciso. As impressões aqui postadas são pessoais, subjetivas e por vezes idiossincráticas.
sexta-feira, 25 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
Ah, Hoi An
Instigada pelas meninas da Handspan, viajei para Hoi An.
Vietnam Airlines, avião correto, vôo idem onde tomei um copo de 7UP, bebida com sabor de infância. A aventura começou ao chegar no aeroporto de Danang. Por que no mundo não pedi pro hotel providenciar um translado? Porque tenho orgulho de ser uma viajante que em Roma funciona como um romano... bem feito, então.
Fui até um balcão daquelas companhias que operam o taxi de dentro do aeroporto, comprei um ticket e me dirigi feliz da vida ao ponto de taxi. Fui literalmente jogada dentro de um, que ligou o taxímetro. Começou aí o diálogo mais bizarro:
No meter, please, I have my ticket.
Meter, madam.
Let's get back to the airport.
Hotel, madam.
Devo dizer que o inglês do motorista não era lá essas coisas (o que não é uma crítica, duvido que um taxista no Brasil fale inglês bem). A gente simplesmente não se entendia e ficou claro que ele não era da companhia que eu havia contratado. Só que eu mostrei o ticket ao entrar.
Decidi me acalmar e ver no que daria aquela noite que não tinha começado bem. Uma lua linda, uma estrada vazia e eu num taxi com um motorista zangado. De um lado o mar, do outro a floresta, e o taxi prosseguia.
Chegamos ao hotel. Entreguei o ticket para o gerente e pedi gentilmente que ele se entendesse com o motorista. Fui recebida, pois estava visivelmente agitada, com suco de maracujá.
O hotel era delicioso, mas não vi muito pois era tarde.
Ao acordar, só não gritei "good morning vietnã"porque de-tes-to o Robin Willliams.
Eis o link no hotel.
http://www.river-beachresort.com/default.aspx
Há coisas que me irritam, como a idéia de uma praia privativa. Detesto, sou contra, e pouco importa se nesse caso a injustiça era a meu favor. Há coisas que me encantam: uma bicicleta podia ser encostada em qualquer canto e na volta estaria lá, impávida.
Hoi An é uma espécie de Parati chinesa, mas a praia é deliciosa. Claro que me joguei no mar, e a cada mergulho pensava "estou no mar da China!". Mas é uma praia pros turistas, pois só vi vietnamitas ali servindo os de fora e uns adolescentes brincando na praia totalmente vestidos. Tolice achar que a cultura de praia é universal, que basta ter um lindo mar.
Só que em Hoi An tem, e só de escrever dá vontade de voltar. E o hotel é bem legal, sem falar que eles servem Pho, a maravilhosa sopa vietnamita, até no café da manhã. E os sucos.... as frutas.... as massagens. Hoi An é um lugar para se viajar com todos os sentidos em estado de alerta.
E o melhor, tudo isso é muito barato.
Vietnam Airlines, avião correto, vôo idem onde tomei um copo de 7UP, bebida com sabor de infância. A aventura começou ao chegar no aeroporto de Danang. Por que no mundo não pedi pro hotel providenciar um translado? Porque tenho orgulho de ser uma viajante que em Roma funciona como um romano... bem feito, então.
Fui até um balcão daquelas companhias que operam o taxi de dentro do aeroporto, comprei um ticket e me dirigi feliz da vida ao ponto de taxi. Fui literalmente jogada dentro de um, que ligou o taxímetro. Começou aí o diálogo mais bizarro:
No meter, please, I have my ticket.
Meter, madam.
Let's get back to the airport.
Hotel, madam.
Devo dizer que o inglês do motorista não era lá essas coisas (o que não é uma crítica, duvido que um taxista no Brasil fale inglês bem). A gente simplesmente não se entendia e ficou claro que ele não era da companhia que eu havia contratado. Só que eu mostrei o ticket ao entrar.
Decidi me acalmar e ver no que daria aquela noite que não tinha começado bem. Uma lua linda, uma estrada vazia e eu num taxi com um motorista zangado. De um lado o mar, do outro a floresta, e o taxi prosseguia.
Chegamos ao hotel. Entreguei o ticket para o gerente e pedi gentilmente que ele se entendesse com o motorista. Fui recebida, pois estava visivelmente agitada, com suco de maracujá.
O hotel era delicioso, mas não vi muito pois era tarde.
Ao acordar, só não gritei "good morning vietnã"porque de-tes-to o Robin Willliams.
Eis o link no hotel.
http://www.river-beachresort.com/default.aspx
Há coisas que me irritam, como a idéia de uma praia privativa. Detesto, sou contra, e pouco importa se nesse caso a injustiça era a meu favor. Há coisas que me encantam: uma bicicleta podia ser encostada em qualquer canto e na volta estaria lá, impávida.
Hoi An é uma espécie de Parati chinesa, mas a praia é deliciosa. Claro que me joguei no mar, e a cada mergulho pensava "estou no mar da China!". Mas é uma praia pros turistas, pois só vi vietnamitas ali servindo os de fora e uns adolescentes brincando na praia totalmente vestidos. Tolice achar que a cultura de praia é universal, que basta ter um lindo mar.
Só que em Hoi An tem, e só de escrever dá vontade de voltar. E o hotel é bem legal, sem falar que eles servem Pho, a maravilhosa sopa vietnamita, até no café da manhã. E os sucos.... as frutas.... as massagens. Hoi An é um lugar para se viajar com todos os sentidos em estado de alerta.
E o melhor, tudo isso é muito barato.
quarta-feira, 2 de março de 2011
As fotos e o que se vê
Tem lugares que me fazem pensar nas artes e nos truques da fotografia. É muito comum ao viajar, chegar em um hotel e descobrir que ele eram bem melhor na foto, que aquela piscina mal passa de um tanquinho... o que não faz uma grande angular!
Com arquitetura acontece muito esse tipo de engano: as casas de Le Corbusier são minúsculas. Magníficas, mas bem menores do que se pode esperar pelas imagens que
circulam mundo afora.
E há lugares que me parecem muito difíceis de serem fotografados. A primeira vez que me dei conta disso foi ao entrar na Catedral de Córdoba, na Andaluzia. O lugar é tão lindo que dá vertigem. Bom, beleza que causa vertigem é o que chamamos de sublime, a beleza que nos desestabiliza. Minhas fotos ficaram apenas razoáveis, mas as outras que vi também. É um espaço para ser percebido com o corpo todo, não apenas com o olhar.
Pensei nisso ao chegar na Halong Bay, no Vietnã. As fotos não fazem justiça, pois não se trata de um lugar fotogênico. Se trata se uma paisagem inusitada, belíssima, surpreendente, algo a se comparar com estar em uma parte meio vazia dos Andes em julho e ver branco, branco, branco.... ou a olhar o Vale da Morte na California e descobrir que é ainda mais impresionante do que no filme do Antonioni.
Halong Bay é assim, só estando lá, pra passar o resto da vida sonhando em voltar.
Como se vai? De Hanoi dá umas duas horas de carro e a estrada, como tudo no Vietnã, é uma aventura, pois podemos ver tudo o que é possível de se transportar numa moto. Quando fui, o congresso nos levou, mas qualquer agência leva. A maravilhosa Handspan deve levar do melhor modo.
Com arquitetura acontece muito esse tipo de engano: as casas de Le Corbusier são minúsculas. Magníficas, mas bem menores do que se pode esperar pelas imagens que
circulam mundo afora.
E há lugares que me parecem muito difíceis de serem fotografados. A primeira vez que me dei conta disso foi ao entrar na Catedral de Córdoba, na Andaluzia. O lugar é tão lindo que dá vertigem. Bom, beleza que causa vertigem é o que chamamos de sublime, a beleza que nos desestabiliza. Minhas fotos ficaram apenas razoáveis, mas as outras que vi também. É um espaço para ser percebido com o corpo todo, não apenas com o olhar.
Pensei nisso ao chegar na Halong Bay, no Vietnã. As fotos não fazem justiça, pois não se trata de um lugar fotogênico. Se trata se uma paisagem inusitada, belíssima, surpreendente, algo a se comparar com estar em uma parte meio vazia dos Andes em julho e ver branco, branco, branco.... ou a olhar o Vale da Morte na California e descobrir que é ainda mais impresionante do que no filme do Antonioni.
Halong Bay é assim, só estando lá, pra passar o resto da vida sonhando em voltar.
Como se vai? De Hanoi dá umas duas horas de carro e a estrada, como tudo no Vietnã, é uma aventura, pois podemos ver tudo o que é possível de se transportar numa moto. Quando fui, o congresso nos levou, mas qualquer agência leva. A maravilhosa Handspan deve levar do melhor modo.
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