Bom a essas alturas eu já estava em casa.
os dias continuavam cinzentos, nem frio nem quente, algo que uma jaqueta peluda resolvia. Nada de casaco.
Dias bons para se caminhar.
Aí acordei tarde (estava em Paris, mas era uma semana de descanso), tomei café tarde, respondi umas mensagens etc.
E resolvi fazer algo com que sempre sonhei: o camino das pontes.
Sim, andar o Sena até o meu destino. Olhei no mapa, dava uns 4 kms, e pouco se bem me lembro. na real, acho que foi mais pois fui bordejando o Sena, mas decidi que era assim que iria do até o
Musée du Quai Branly.
Mas antes das pontes e do museu, um minutos para nossos comerciais, e uma revelação.
Estou cada dia mais natureba, quase obcecada com alimentação. Uma verdadeira Bela Gil. E a viagem caiu no meio de uma longa dieta. Isso coloca aquele dilema leninista: que fazer?
Descobri, do lado da minha casa, a solução:
Le Paradis du Fruits.
Sou viciada em suco verde. Verde mesmo, que não sou fraca, desses que travam. Couve líquida. Os deles são maravilhosos. O de cenoura e gengibre, um céu.
Como tenho uma infame tendência de criar rotinas em qualquer lugar que visito, pronto, virei habitué nesses dias. Pra melhorar, tinha wifi, e em viagens isso é bom, pois nunca compro os pacotes que nossas companhias telefônicas oferecem.
Melhora? Melhora! Muita quinoa, muito vegetal, muito cogumelo.
Deu até saudades. Continuo em dieta...
Bem alimentada, lá fui eu, de ponte em ponte.
Maravilhada, claro. No meio deu preguiça, mas fui firme e lá cheguei em cerca de uma hora, caminhando e cantando :)
Porque fui a esse museu?
Pra tirar a teima. Visitei quando era novinho em folha, em 2007 e impliquei. Tenho uma lista de implicâncias conceituais, que agora não vêm ao caso.
Aí que passei anos me perguntando se não tinha sido severa demais com o museu. Então vamos lá, por partes.
1. O prédio. Gosto do Jean Nouvel. Adoro o Instituto do Mundo Árabe e gosto muito da Fundação Cartier. Tem uma torre dele em Barcelona que não vi e não gostei. E, definitivamente, acho o prédio do Quai Branly muito bobo. Bobo mesmo, ininteligível por fora e meio ridículo, com umas cavernas, por dentro.
2. O acervo. De encher os olhos. Uma peça mais bonita do que a outra e no conjunto deixam qualquer um sem fôlego. De tudo que é canto do mundo e com as mais diversas funções. De enlouquecer.
3. A museografia. Aí que pegou em 2017 e continua pegando. não confio na divisão geográfica ampla. América não é um bloco, então África não deve ser também. Mas a escuridão do museu com os pontos de luz sobre as peças tem um belo efeito dramático.
Voltei caminhando, pensando.
Fiz as pazes com o museu, mas ainda acho que deixa a desejar.
Nesse dia jantamos em casa:
dos de cabillaud e vinho.
Minha viagem chegava à sua metade.