segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Viena, vamos por partes. Ou melhor: por Lisboa

É um pouco difícil chegar em Viena. Não existe vôo direto do Brasil: é preciso ir por Paris, Zurique, Lisboa, Frankfurt ou, a melhor opção, Munique. Claro que isso pode ser sempre pretexto para uma agradável escala técnica em uma dessas cidades maravilhosas. Fui por Lisboa.
Meu avião pousou lá bem cedinho, o dia amanhecendo. Nunca vou me perdoar por ter deixado a câmera na mochila, pois o avião entroou voando baixinho na capital portuguesa, de modo que pude acompanhar: Torre de Belem, Jerônimos, Ponte 25 de abril, Baixa Manuelina... a Expo, Ponte Vasco da Gama, pousou, cheguei! Um presente de chegada num domingo de sol.
O desembaraço na imigração em Lisboa é sempre lento, e nesse dia chegaram dois vôos lotados ao mesmo tempo. Paciência, gafanhoto.... mas é sempre bom fazer esse procedimento em português e com funcionários que podem até fazer perguntas bizarras, mas são gentis -- eu me recuso, por exemplo, a entrar na Europa pela Espanha, depois de tantas narrativas de mau tratos no aeroporto de Barajas (de baratas, como diz um amigo que já penou por lá).
Como as malas seguiram direto pro destino final, foi um pipi, um café e um taxi: em minutos eu estava na Expo. Um taxi porque, desinformada, não sabia que a novidade é que agora o metrô de Lisboa vai até o aeroporto, ligando com a linha Oriente. Que maravilha, uma cidade com menos de 1 milhão de habitantes e o transporte nos trinques!
Chegar à Expo ao amanhecer é um presente dos deuses. O Tejo brilhava com o sol baixo, tinha muita gente caminhando, correndo, andando de bicicleta ou simplesmente tomando sol. Foi um lugar perfeito para uma recuperação das dez horas em classe econômica, quando mal dormi e dormi mal.
Um café esperto com um sanduichinho de queijo de cabra, um sumo de maçã enquanto esperava a atração do dia. Quando lá cheguei, surpresa: a fila era das boas. Dorminhoca que sou, sempre imagino que quando madrugo estou só, mas lisboetas e turistas já estavam por lá à espera daquela maravilha.
O Oceanário é lindo. Começamos por tartarugas, divinas, com aquele nado suave, de comover até mesmo uma brasileira que já foi muitas vezes às varias praias com a presença do Projeto Tamar. Esta era a exposição sazonal -- exposição sim, pois aquários, serpentários e zoológicos não deixam de ser museus de ciências.
O aquário propriamente dito é demais: as salas são divididas por espécies e por mares. Depois de muito tubarão, que me fizeram lembrar do meu filho pequeno no aquário de Edimburgo, começamos a ver as espécies dos diversos oceanos, um festival de cores e silêncio que dá vontade de nunca mais sair de lá. Sim, silêncio: eu pensava que se acreditasse em vidas passadas e futuras, desejaria voltar como peixe, pra passar a vida nadando em lindas coreografias, e desfrutando do silêncio.










Passei a manhã toda por lá e voltei ao aeroporto feliz, refeita. Pena que o vôo pra Viena atrasou: se soubesse disso antes, teria passeado mais pela Expo, arriscado um pouco.
De qualquer modo, um vôo breve, dessa vez com muito sono, e anoiteci em Viena.
Como sempre escrevo citando Lou: what a perfect day.
Nas imagens, o lindo amanhecer na Expo, com destaque para o pavilhão do arquiteto Alvaro Siza Vieira, a ponte Vasco da Gama e, claro, o aquário e suas criaturas.

sábado, 4 de agosto de 2012

Viena

Sonhei em ir pra Londres minha adolescência inteira, por causa do rock, claro. Mais tarde, passei a sonhar com Paris por vários motivos, com Nova York por fome de cosmopolistimo, como o oriente por curiosidade. Hoje sonho com a África e com lugares recônditos da América Central.
Nunca cheguei a sonhar com Viena. Com Praga sim, pois alguns diziam ser mais bonita que Paris, o que me parece quase impossível.
E Viena? Viena foi um sonho intelectual, por causa de um livro que li em 1989. Seu autor, o historiador Carl Schorske fez uma leitura da indissociabilidade de cultura, cidade e política que é muito do que eu penso dessas coisas até hoje. E Viena passou a significar um monte de personagens - Freud, Klimt, Schömberg - e um plano urbanístico conhecido como a Ringstrasse, rua do anel.
E lá fui eu atrás da Ring. E do Danúbio. Freud, Klimt etc. E de música, pois para mim Viena ecoaria a Mahler e Mozart a cada esquina.
Ao chegar, cadê a Ring?


Bom, o que se vê no mapa do final do século XIX ainda está lá. Mas o traçado que é bom, não se percebe. A Ring é uma junção de ruas e quando estamos em uma.. bem.... a outra está lá do outro lado! Exista mais no mapa, nessa quinta fachada que se tornou o googlemaps, mas não para os olhos e pernas de um pedestre. mas tudo o que ele contou sobre os edifícios permanece. Um parlamento estranho, pois quis ser um forum romano, mas é meio sem escala; uma belíssima igreja neogótica e uma prefeitura idem; um teatro elizabetano, uma universidade renascentista. Como eram literais os arquitetos do século XIX: direito é coisa de romano, assim deve ser o parlamento; igreja bombou na Idade Média, logo elas devem ser góticas etc. Nada muito distante do raciocínio da nossa Catedral da Sé, construída entre 1940 e 197o em estilo... gótico, ora.
Mas embora o grosso dessa cidade seja uma obra do século XIX, nem só disso vive Viena.
Nem só de um aspecto que me intrigou/irritou, e que agtribuí a alguns acharem que precisam ter um simbolo para turistas e seus suvenires: o culto à Sissi. Para mim, Sissi e Sissi e Imperatriz eram filmes de Sessão da Tarde na adolescência, aqueles que minhas amigas adoravam e eu fingia que gostava para não ser "do contra" desde a mais genra idade. Mas, jantando com um amigo já de volta, chegamos à conclusão que se trata mais de uma nostalgia do tempo em que a Áustria esteve no centro, se não do mundo, pelo menos da Europa Central.
Pois é.
Hoje Viena não é centro de nada e as consequências disso são simplesmente adoráveis. O tempo todo eu senti uma cidade boa para se viver, boa para quem ali vive e que, mientrastanto, recebe turistas e os trata bem. O comércio fecha no domingo, aliás já está fechado no sábado depois do almoço e depois das 19 horas nos dias de semana. Perguntei a uma vendedora de loja se era assim mesmo e ela disse com altivez: somos dos últimos! Certíssimos... nada de cidade que não dorme por conta de quem chega pra visitar, é tudo no ritmo local.
Abaixo, o parque da cidade, Stadtpark, cuja rua, Parkring, é parte da Ring. A cidade é um bocado verde.


O transporte é bom, embora eu tenha achado o metrô um pouco mal sinalizado. Mas é o mais limpo que já vi, de longe, vazio, preciso, pontual e tem até uma revistinha de bordo. Melhor do que andar de avião em certas companhias, tá? E deu até pra andar de ônibus em um dia em que fui visitar um bairro distante. Tudo funciona.
E a vida cultural é de parear com as tais grandes cidades. Museus e mais museus, de tudo e bem montados. Museografia esperta sempre. Arquitetura respeitada sempre.
Nossa, já estou com vontade de voltar.
Só senti um inesperado silêncio: por conta do festival de Salzburgo, a Orquestra Filarmônica de Viena não estava na cidade. E eu que sonhei em ouvi-la de perto, terei de voltar.
Volto depois. Essa primeira impressão é só o começo.

Acima, a entrada de um hostel onde fiquei. Depois volto pra falar de hospedagem, preços etc.