quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ainda o Rio com meus alunos

Os trabalhos finais dos alunos espelharam o acerto da nossa viagem ao Rio. A cidade se mostrou, além de maravilhosa, boa para pensar. E eles pensaram muita coisa interessante a partir dela.
Assim, lembremos o último dia, quando, já meio esgotados, tivemos uma programacão que faz sentido para o aluno de arquitetura, mas talvez nenhum para os meros mortais.

Como eles pediram uma manhã livre, não sei bem o que a maioria fez. Eu fui pro Forte de Copacabana olhar o mar com um pequeno grupo e foi ótimo. De lá, almoçamos, por puro espírito bossanovista, no Veloso. Sim, pois nossa brincadeira era cantarolar Jobim e fingir que tínhamos ido parar numa novela do Manoel Carlos. Parece bobo e é; mas é assim que quase todo brasileiro conhece o Rio, pela janela da Globo.
Depois do almoço, pegamos a estrada, mas não sem antes parar naquilo que para mim foi o ponto alto da viagem. Um conjunto residencial. Para quem foi até Marselha para ver a Unité d'Habitation, como não visitar Pedregulho?
Pedregulho é o nome popular do conjunto habitacional Prefeito Mendes de Morais, projeto de 1947 do arquiteto Afonso Eduardo Reidy com apoio e muita participação de sua companheira Carmen Portinho, uma das primeiras engenheiras do Brasil. E uma feminista das boas. Querida leitora, você vota? Então vamos agradecer à Carmen!
Os arquitetos chamam de Pedregulho, por estar fincado uma pedra respeitável; mas a população do bairro de Benfica chama mesmo é de Minhocão, pela forma serpenteante do bloco principal.
Pedregulho é habitação de baixa renda, e o projeto é tão magnifico que dá vontade de chorar de lembrar. Como parece que nosso país está tomando jeito, está em fase de restauro, uma obra de 10 milhões concedidos pelo BNDS.
Os habitantes têm plena noção de morarem em algo muito especial, e isso é bom. Visitamos um apartamento, um duplex que se estivese em um bairro "nobre" (que termo horrendo) de São Paulo ou Rio, as pesoas se matariam para ali morar.
Por algum tempo, o conjunto compareceu no cinema brasileiro como residência de meliante. A cena da Fernanda Montenegro correndo pelos corredores curvos, sob a luz filtrada pelos cobogós é inesquecível. Mas o melhor mesmo é visitá-lo no filme de Ana Maria Magalhães sobre o arquiteto.
Quando novo, zero bala, foi fotografado por Marcel Gautherot. Em uma famosa visita ao Brasil, Max Bill deitou elogios ao conjunto. Quando os arquitetos modernos mais prestigiados se reuniram em Hoddeson para o CIAM de 1951, as melhores palavras foram para quem? Para Pedregulho. No mesmo ano, advinha quem levou o prêmio de arquitetura da Bienal de São Paulo? Pois é.
Vou voltar, sei que ainda vou voltar, com ou sem os alunos. Por nada nesse mundo vou perder a alegria de ver esse conjunto recuperado. De preferência com sua população ainda por ali, levando a vida cotidiana sem alarde e recebendo bem os que atravessam estradas para conhecer sua grande casa.
Abaixo, uma das fotos de Gautherot e outra da nossa viagem.





domingo, 18 de dezembro de 2011

Pra lá e pra cá

O que se faz num bate-pronto em Porto Alegre? No meu caso, nada, aproveitei pra dormir um pouco no hotel.
E no Rio? Ah, nesse dia eu fui profissional: o avião pousou às 8 e pouco e meu compromisso era às 13 hs. Me mandei pro finalzinho de Copacabana e fiquei tomando água de coco enquanto me maravilhava com a aula de body-boarding. Depois, entrei no forte e tomei um senhor café da manhã na Confeitaria Colombo. Só não me joguei no mar porque não tinha levado trajes adequados... e onde tomaria banho pra chegar apresentável no trabalho? Ainda estou matutando uma solução para tal dilema, afinal eu moro em Sampa, uma oportunidade de nadar no mar sempre deve ser considerada. Alugar os amigos... será?
Em poucos dias lá estava eu em Fortaleza, para um evento muito intenso, que não deixava tempo para nada e era muito bom. O que fazer? Num horário de almoço, fugi para o Dragão do mar. Uma pena, estava super vazio, acho que o quente lá e de noite. Vai ficar pra próxima. Mas pude observar que, programação à parte, a arquitetura é muito pós-moderna pro meu gosto. Parece que Aldo Rossi esteve por lá e tomou sol demais... opinião mais-do-que-pessoal, ok?
Em uma outra brechinha, tomei um taxi e corri para o CEART, lugar maravilhoso para comprar artesanato. Agora olho o chão da minha sala e penso no tapete que não comprei.... mas trouxe fronhas, cerâmica, presentinhos. Artesanato honesto, preços idem e as peças trazem, o que é justo, o nome do artesão que as concebeu e executou. Cultura popular não é anônima, geralmente é só de alguém que ainda não conhecemos!
E no último dia, quando o despertador tocou, eu quis amarelar. Mas lembrei que andei acordando muito cedo para ralar, de modo que fiz uma forcinha e às 7 horas estava na praia de Iracema. Eu e meia dúzia de gatos pingados. Deixei o cansaço de um ano intenso naquelas águas e trouxe a luz matinal praiana nas retinas.
Contas feitas, é óbvio que preciso passar uns dias na praia, sem fazer nada. Vamos ver se dá.




Enquanto isso, estou a um passo de embarcar na direção oposta, para os Andes. Quem sabe desço um pouco em coloco os pés no Pacífico?
Nas imagens, Porto Alegre vista do avião (snif), o mar batendo nas pedras do Forte de Coapcabana e o Dragão do Mar.