quarta-feira, 27 de julho de 2011

Bahia, eu volto pra lá!

Eu iria pra Bahia logo mais, mas por mil motivos desisti.
O que eu faria por lá? Bom, eu sinto uma alegria genuína já ao sair do aeroporto, ao atravessar o bambuzal. Ouvi rumores de que o dito aeroporto voltará a se chamar "Dois de julho" e espero que seja verdade e ainda lembro do susto, em pleno vôo quando escutei que estávamos há minutos de pousar no aeroporto Luis Eduardo Magalhães...
Bom, Bahia não é ACM e este já foi pro outro lado da vida. E a enigmática Salvador continua por lá.
Se por lá estivesse, sairia direto do aeroporto pro meu hotel preferido na cidade. Eu simplesmente adoro o Catharina Paraguaçu. Por seu casarão bem recuperado, pelo artesanato, pela localização. É só tomar um taxi e dizer que vai do lado do acarajé de Dira! O Rio Vermelho é um bairro adorável e estratégico, inclusive pelos acarajés. Nesse hotel, após um dia eu já escutava, com aquele acento maravilhoso: "Sil, como vc vai querer seus ovos, no ponto ou mais molinho?" Apenas 23 apartamentos e funcionários gentis, é assim que funciona.
Se por lá estivesse, depois de deixar a mala no hotel, rumaria direto pro Solar o Unhão, onde funciona o Museu de Arte Moderna. Se tivesse uma exposição bacana, ótimo. Caso contrário, ficaria por lá só para olhar a bela construção setecentista recuperada no início dos anos 1960 por Lina Bo Bardi, que andava arrasando pela Bahia. Minha ligação com Salvador eu devo a essa senhora, então o mínimo que faço é prestar tributo.
Era uma casa meio abandonada, embora tombada, quando a avenida do Contorno foi construída. Lina derrubou parte da construção, esvaziou o espaço interno e adaptou tudo para abrigar um Museu de Arte Popular que foi fechado após o golpe de 1964. Virou MAM, o que é inadequado, pois as obras sofrem à beira do mar. Daí as janelas hermeticamente fechadas e outras alterações.
Never mind. A beleza da intervenção de Lina ainda está lá, e a vista para a maior baía do país também.
Como a página do museu tem fotos atuais do espaço, as imagens abaixo são do tempo do Museu de Arte Popular.




sábado, 23 de julho de 2011

Dois lados, dos muitos, da mesma Serra

A Serra da Mantiqueira é um maciço e tanto, e abriga um mosaico de cidades interessantes. Visitei duas delas nesse finds. Campos do Jordão, que conheci na infância, e para onde não voltei muito -- aúltima vez deve fazer bem mais de quinze anos. E São Bendo do Sapucaí, que não conhecia.Trinta e três quilometros as separam, mas quase tudo as difere.
Campos está cada dia mais fake, e a tradução de fake, segundo um amigo, é "feiquedói". Para mim é algo incompreensível, o que o consumo consegue imprimir numa paisagem tão privilegiada. Lembrei de meu pai dizendo o clichê "Suíça brasileira", mas o que se vê por lá é um simulacro do que pode ser a vida no inverno. Não vi nada parecido na Suíça, ok, fui no verão e não para uma estação de esqui; mas já passei um dia em Cortina d'Ampezzo, um pouco cafoninha, mas nada que se compare...para mim continua incompreensível o gesto de levar a vida toda na mala de viagem. Por lá temos os mesmo restaurantes de São Paulo, as mesmas lojas, em meio a outras que vendem um clima de inverno, e dá-lhe cachecol, bota, mashmellow e lugar comum.
enfin, em boa companhia, com bons vinhos e boa conversa tudo fica muito bom. O Horto continua o máximo e o Festival de Inverno de fato vale a pena. Estou até agora com aquele Stravisnki, bem executado pela Orquestra da Petrobrás sob a batuta do Karabchewsky, na alma, enchendo a alma de alegria e sentimento de vanguarda.
A poucos quilometros dali, Sapucaí. Pequena, despojada, com pousadas espertas.Uma cidade de verdade, com gente que ali vive, planta, com remanescentes de um quilombo, com vista pra mesma onipresente Pedra do Baú. Tem até uma briga entre as cidades, pois a pedra fica em São Bento e é cartão postal de Campos...
No meio das duas, um restaurante imperdível e surpreendentemente vazio. O Empório dos Mellos é um achado de lugar: lindo, descolado, simpático e a comida é tudo. E o pessoal lé em Campos curtindo a fila do Baden Baden... deixa eles!
Se estiver pela serra, vá lá, correndo: http://www.emporiodosmellos.com.br/index.php
Já começo a pensar num começo de férias pro próximo inverno: uns dias em Parati na FLIP e depois outros na serra ouvindo boa música, comendo super bem e desvendando a serra em São Bento do Sapucaí, Gonçalves ou São Francisco Xavier.




Nas fotos, a entrada do Horto, o restaurante e a Pedra do Baú, vista de São Bento do Sapucaí.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Auguste Perret

O francês Auguste Perret nasceu em 1874 - ou seja, pouca coisa mais velho do que os arquitetos modernistas -- e estudou arquitetura na Belgica. Sortudo, herdou do pai a firma de construção Perret et frères. Uma de suas primeiras obras, o edifício de apartamentos da Rue Franklin, em Paris, é de 1903.
Em Paris, vale a pena alterar qualquer caminho só pra passar em frente. É lindo, cheio de detalhes e de um tocante pioneirismo no uso do concreto armado. Tratei de conhecer agora pouco, em junho. É uma beleza. Do lado de fora, ficava me perguntando como seria o apartamento e achei a planta na internet:



O apartamento é ainda nos moldes da casa burguesa do século XIX, com boudoir e fumoir, demarcando bens os domínios masculinos e femininos no espaço doméstico. Mas dá pra imaginar o potencial com uma reforma sutil, discreta.
Tenho essa mania que já virou objeto de riso entre meus amigos. Sempre que viajo fico imaginando onde gostaria de morar. Em Paris são vários os meus endereços, mas no momento viveria feliz na Rue Franklin.
Em São Paulo, Auguste Perret foi responsável pelo edifício onde funciona o museu da FAAP. O fato é desconsiderado pela direção dessa instituição de ensino, famosa por se lixar para o patrimônio cultural, mesmo estando na fronteira de dois lindos bairros paulistanos. E é considerado irrelevante pelos órgãos do patrimônio, que já deviam ter tombado a casa de Armando Penteado há tempos. Uma pena.
Em Paris, não passa desapercebido. Ainda aprenderemos a considerar melhor o que temos de cultura material nas nossas cidades.